São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Estádio desagrada a população

HELCIO ZOLINI

HELCIO ZOLINI; EUGÊNIO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

EUGÊNIO NASCIMENTO
Obra construída com recursos do Sesi, o estádio Manoel do Prado Franco, em Areia Branca, a 36km de Aracaju, é um exemplo de mau uso de verbas da entidade.
Possui dimensões oficiais e capacidade para reunir em suas arquibancadas um público de 3.000. Segundo o Censo de 93, o município conta com 11.143 moradores.
A obra custou em torno de R$ 200 mil e, dois anos depois de inaugurada, teve que ser fechada. A prefeitura, que recebeu a missão de administrar o "monumental" de Areia Branca, não tem dinheiro para pagar nem as contas de água.
"Esse é um claro exemplo da falta de critério com que o Sesi local comanda seus negócios", diz o ex-governador de Sergipe e líder da oposição no Estado, Jackson Barreto (PMDB).
O estádio não conta nem com a simpatia dos habitantes do local. "Isso (o estádio) é a última coisa que eles deviam ter feito aqui. Nós precisamos é de escola", diz o aposentado Afonso dos Santos.
"Era melhor se tivessem feito casas ou cursos para ensinar uma profissão para as pessoas", opina o desempregado José Elias, 36.
Barreto acusa o governador do Estado, Albano Franco (PSDB), de ter-se utilizado da estrutura do Sesi para obter vitórias eleitorais.
Franco elegeu-se senador em 82 e 90, e governador em 94. Durante 13 anos (de 1981 a 1994) foi presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), à qual o Sesi está subordinado.
"Nesse período todas as obras do Sesi no Estado atenderam pedidos de políticos e beneficiaram Franco diretamente", diz Barreto.
O governador rebate afirmando que nunca fez uso eleitoral do Sesi. "Todas as obras realizadas tinham sentido social. Nada foi feito em troca de votos", afirma.
Segundo Barreto, Albano Franco "construiu ginásios, estádios e postos de saúde" pelo Sesi "em troca de apoio político".
"Faça-se uma auditoria e tudo isto será comprovado", diz Barreto. Para o governador Franco, "o tipo de acusação" que Barreto lhe faz "sempre parte de quem nada faz em favor do povo".
Falando sobre o Sesi, Franco diz que o sistema "funciona bem", mas admite que precisa ser aperfeiçoado. "Pode haver distorções sim. Por isso defendi a participação do trabalhador no conselho administrado pela indústria e a abertura do sistema para a comunidade", diz.
Ele nega que tenha utilizado politicamente a CNI, mas diz que procurou ajudar seu Estado.
"Ajudei muito Sergipe, principalmente porque aqui temos um homem como Idalito (de Oliveira, presidente da Federação das Indústrias de Sergipe), que é meu sucessor e muito parcimonioso".
O presidente da Federação das Indústrias de Sergipe, Idalito de Oliveira, reconhece que Areia Branca não possui nenhuma indústria, mas diz que não houve desvio dos objetivos do Sesi. "Areia Branca é uma cidade dormitório e tem um número grande de operários que moram lá."

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