São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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Zagallo ganha dois ou três cabelos brancos

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Depois do jogo contra a Croácia, vi Zagallo na TV e fiquei com a impressão de que o velho Lobo dos campos ganhou mais uns dois ou três fios de cabelos brancos.
Não pelo empate de 1 a 1, que isso ele tira de letra. Vou além: até gosta de um resultado negativo às vésperas do embarque, não só para manter a escrita, mas, sobretudo, para unir o grupo, como os boleiros gostam de dizer. Essa sensação de nós contra o mundo sempre lhe foi muito cara.
Refiro-me, isto sim, à definição dos 18 do Forte que marcharão de peito aberto para a conquista de Atlanta. Por exemplo: Flávio Conceição, na lateral direita pode quebrar um galho durante, digamos, 20 ou 30 minutos de jogo.
Mas imaginá-lo como único substituto de Zé Maria é uma temeridade, pois faltam-lhe velocidade e ginga para atuar por aquele setor, tão importante no futebol moderno que seu ocupante deve ser como, nos versos do Poetinha é o maestro Moacyr Santos -não um só, mas tantos.
Logo, é o momento de Zagallo cogitar da chamada de Rodrigo para a posição de reserva de Zé Maria, que, com Roberto Carlos e André, do outro lado, comporiam o quarteto de laterais da seleção olímpica.
E quem cede seu posto? Qualquer um dos possíveis reservas do meio-campo, tipo Beto ou Jamelli ou Marcelinho Souza, pois, para uma eventualidade nesse setor, ele pode recorrer a André, capaz tanto de exercer a função de segundo volante como a de armador.
E lá na frente? Cresce a sombra de Romário e tremula a chama de Luizão, que, nesta quadra de sua vida profissional, caminha sobre o tênue fio que separa a glória da desgraça.
Mais previdente seria levar quatro atacantes -Romário, Luizão, Sávio e Marques, que pode ser o número 1, na ausência de Juninho- e acender uma vela para que Ronaldo, do Atlético, resolva o problema da quarta-zaga.
Assim, teríamos, além dos dois goleiros -Dida e Danrlei (ou deveria ser o inverso?, já tenho minhas dúvidas)-, quatro laterais, três zagueiros, quatro atacantes.
Quantos são? Treze, o número de sorte de Zagallo. Restariam, pois, cinco vagas, a serem ocupadas por três médios -Flávio, Amaral e Zé Elias- e os dois meias titulares -Rivaldo e Juninho. O resto fica por conta da sorte.
*
Outro dia, por incúria, matei um amigo, transformando-o em saudoso símbolo do Corinthians moribundo na Libertadores. O Corinthians morreu na sexta-feira, quando a meia-noite se aproximava, em Porto Alegre, sem que eu nada pudesse fazer. Mas, com os poderes de vida e morte que a palavra me confere, ressuscito o amigo que continua vivíssimo nos seus 76 anos de idade: vai, Chico Mendes, e segue soltando teu grito imorredouro -"Vai, Corinthians!".
*
Mas vai pra onde? Só resta o caminho que leva à contratação de um lateral do porte de Zé Maria e de um centroavante de verdade.
Caso contrário, o clube ficará à margem do Brasileirão, depois de ter perdido o rumo no Paulistão, na Copa do Brasil e na Libertadores.

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