São Paulo, domingo, 26 de maio de 1996
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O Congresso Nacional e o emprego

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Ano eleitoral. Abriu-se a campanha. Os candidatos se aprontam para conquistar os votos. No seu cardápio, o desemprego será o prato do dia. Não é para menos. Quem não tem um ou mais membros da família procurando trabalho?
Nesse campo, é muito fácil prometer. O difícil é gerar empregos. Será tentador apontar os erros. Mais complicado, porém, é dar trabalho para os chefes de família, os jovens e as pessoas de meia-idade.
Estamos num tempo em que os governos desempregam, pois necessitam cortar gastos. A indústria demite porque sofre com a concorrência da economia globalizada.
Os bancos enxugam seus quadros por força da automação e do fim da inflação. E assim por diante.
Gerar empregos é um empreendimento muito caro. Para criar um simples posto de trabalho são necessários investimentos de ordem de US$ 30 mil. Nos setores mais sofisticados, isso ultrapassa os US$ 150 mil.
Digamos que a média seja US$ 50 mil e que o Brasil decida criar, pelo menos, 1 milhão de empregos. Isso significa um investimento de US$ 50 bilhões! É muito dinheiro! Quem pode investir essa montanha de recursos?
O Encontro Nacional da Indústria, realizado no dia 22 de maio em Brasília, teve esse objetivo. Ali compareceram os empregadores do Brasil para demandar a aceleração nas reformas constitucionais e, com isso, atender aos interesses do povo brasileiro.
Enganaram-se inteiramente os que interpretaram o gesto como uma defesa barata de um lobismo de classe.
Os congressistas não podem criar empregos. Mas está em suas mãos o poder para criar as condições que, por sua vez, permitem aos empregadores gerar empregos.
"O Estado de S.Paulo" destacou que os empregadores caminharam em direção ao Congresso Nacional sem pisar na grama. Acrescente-se: e sem pisar nas regras da democracia.
Ao contrário, eles ali se reuniram para pedir, educadamente, que nossos governantes e parlamentares desobstruam tudo aquilo que hoje impede a criação de emprego neste imenso país: o "custo Brasil", a tributação em "cachoeira", os juros escorchantes e a inflexibilidade da legislação trabalhista e previdenciária.
É claro que a globalização, a competição internacional e a revolução tecnológica continuarão conspirando contra o emprego interno. Para atenuar o problema, impõe-se promover as reformas.
Isso, além de interessar ao povo, deveria interessar também aos políticos que, nas próximas eleições, em lugar de tagarelarem sobre promessas vazias, poderiam explicar aos eleitores o que fizeram, efetivamente, para criar mais empregos para a família brasileira.
O tempo é curto. As ações exigem rapidez. A prorrogação da atual agonia será o atestado de óbito para o emprego e para os maus candidatos.

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