São Paulo, quinta-feira, 6 de junho de 1996
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Banco Central recebeu denúncia em 92

CARI RODRIGUES; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório da comissão que investigou o Nacional torna difícil entender como as fraudes escaparam à fiscalização do BC.
Desde 92, a carteira de empréstimos fictícios do Nacional já representava mais da metade das operações de crédito do banco.
A fiscalização do BC é feita por amostragem. Ou seja, escolhe-se aleatoriamente um grupo de operações para fiscalizar. Mesmo com tal mecanismo, era grande a probabilidade de o BC encontrar um empréstimo fictício.
Segundo a investigação do BC, a maioria dos clientes escolhidos para esses empréstimos era de empresas falidas ou desaparecidas.
Apesar de os créditos estarem atrasados, o Nacional não executava judicialmente os devedores.
Ainda que não detectasse as fraudes, o BC poderia ter atentado para o volume total de empréstimos do Nacional.
Volume de crédito
Em 87, o volume de crédito do Nacional equivalia a 289% de seu patrimônio líquido. Em junho de 95, o percentual era de 655%. Essa relação é monitorada pelo BC como forma de medir o nível de risco com que os bancos operam.
No mês passado, o empresário paulista Miguel Elias Haidamus disse que denunciou o esquema ao BC em 11 de maio de 92.
Sua firma, a Triton Comércio e Indústria de Óculos, estava sendo incluída indevidamente na contabilidade do Nacional como devedora. A Triton consta da lista de falsos devedores do Nacional, elaborada pelo BC e divulgada pela Folha em março último.
O Nacional, segundo auditores do BC, cometeu ainda uma série de irregularidades em sua contabilidade e nos registros de operações.
Em vários pontos do relatório, os auditores dizem que não puderam concluir investigações por falta de documentos ou microfichas.
A lista dos 20 maiores devedores, que o BC exige de cada banco desde 94, também foi omitida pelo Nacional. Dela deveriam constar 18 empresas incluídas na carteira de empréstimos fictícios.
BC errou
O presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola, e o diretor de Fiscalização do banco, Cláudio Mauch, já admitiram em diversas ocasiões que a fiscalização errou ao não detectar as fraudes.
O BC estuda criar central de risco, onde os bancos informariam quem tem mais de um empréstimo e pode se tornar inadimplente.
(CARI RODRIGUES e GUSTAVO PATÚ)

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