São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996 |
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Cavallo vê menos incentivo à montadora
DENISE CHRISPIM MARIN
Essa é uma das expectativas do ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, que esteve esta semana em Brasília para reuniões com três ministros da área econômica e com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista exclusiva à Folha, na quarta-feira passada, Cavallo afirmou que é possível a adoção de uma "margem" que limite o intercâmbio, sem compensação, de veículos fabricados por montadoras presentes em um dos dois países. O ministro argentino apresentou um cenário favorável para a economia de seu país neste ano: crescimento da ordem de 5%, fim da recessão e cumprimento das metas fiscais fixadas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Cavallo informou que em breve será divulgada a taxa de desemprego na Argentina e que o indicador ainda preocupa. A seguir, os principais trechos da entrevista: * "Recessão já passou" Folha - O sr. concorda com a análise que aponta a Argentina tendendo a receber investimentos proporcionais a um terço do volume dirigido ao Brasil? Domingo Cavallo - Sim. A comparação do tamanho dos mercados, das economias, é mais ou menos três para um. O tamanho do mercado automotivo brasileiro, por exemplo, é de 1,5 milhão de veículos. Na Argentina, as vendas anuais são de 500 mil. Folha - Isso quer dizer que o estabelecimento de novas montadoras no Brasil não deverá causar atritos nas relações com a Argentina? Cavallo - Em geral, os investimentos são desenhados para o Brasil e para a Argentina, de acordo com o tamanho dos mercados e com sua complementaridade. Folha - O senhor chegou a falar com os ministros brasileiros sobre a redução de 90% no Imposto de Importação de máquinas e matérias-primas, prevista na medida provisória do regime automotivo? Cavallo - Nós temos praticamente o mesmo regime automotivo. Há diferenças na importação de algumas matérias-primas siderúrgicas e petroquímicas. Folha - Mas na Argentina essa alíquota varia de 18% a 24%. No Brasil, cai para 2%. Cavallo - Quando lançamos o regime automotivo também reduzimos o Imposto de Importação a 2%. Acontece que o regime argentino foi desenhado em 1992 para vigorar durante oito anos. Também prevê que, a cada ano, essa alíquota deve aumentar até alcançar o percentual previsto para o ano 2000. Creio que o Brasil deve ter uma política semelhante. Começou no ano passado com seu regime e deve iniciar logo os aumentos. Folha - O senhor conseguiu a promessa do governo brasileiro que haverá aumento na alíquota? Cavallo - Não. Suponho que os benefícios concedidos as montadoras vão se atenuar ao longo do tempo, como ocorreu na Argentina. Folha - O senhor acredita ser correta a crítica do economista Rudiger Dornbusch de que o real está sobrevalorizado em 40%? Cavallo - Os cálculos sobre a paridade teórica do tipo de câmbio são muito discutíveis. O Plano Real, como foi aplicado, é sustentável, assim como o Plano de Conversibilidade (ou Plano Cavallo). Na Argentina também se dizia que iríamos desvalorizar a moeda. No entanto, a economia seguiu crescendo, as exportações se expandiram e a inflação baixou. Folha - Qual sua expectativa para a taxa de desemprego de maio? Cavallo - Cremos que o desemprego tende a cair. Já houve redução de dois pontos percentuais na taxa de outubro, em relação ao índice de maio de 1995 (18,4%). Os estudos mostram que a taxa de maio é sempre mais alta que a de outubro. Assim, não sabemos se vai estar mais baixa que a de outubro de 1995. Mas é quase seguro que será menor que os 18,4% de maio de 1995. Folha - Pode-se concluir que será de cerca de 17%? Cavallo - Ainda não estão processados os dados. De maio a outubro de 1995, houve geração de cerca de 40 mil postos de trabalho. Cremos que também aumentou de outubro a maio deste ano porque a economia argentina melhorou. Folha - A economia argentina registrou queda de 3,2% no primeiro trimestre deste ano. O senhor considera que é possível cumprir a meta de aumento de 5% no PIB (Produto Interno Bruto) em 1996? Cavallo - Com relação ao primeiro trimestre de 1995, realmente houve queda de 3,2%. Mas a estatística aponta crescimento de 3% em comparação com o quarto trimestre de 1995. A recessão teve seu ponto máximo no terceiro trimestre de 1995. Folha - O senhor considera que a recessão argentina já passou? Cavallo - Sem dúvida, a recessão passou. Texto Anterior: Correção vai de 12,6% a 19,3% Próximo Texto: Bancos discriminam quem não é cliente Índice |
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