São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996 |
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Desmascaramento e descaramento
OSIRIS LOPES FILHO Parece que o governo de FHC dirige o Executivo federal diante de um espelho. Entre o exame da realidade do país -a tristeza, o desânimo e o pessimismo que o vão deprimindo-, os componentes da casta dirigente se vêem a si mesmos refletidos, como se sua imagem fora o real.Empolga-os o entusiasmo pelo poder, introjetando-lhes não a Deus, como previu o presidente convertido, mas a arrogância dos que se julgam oniscientes e a presunção dos que se consideram onipotentes, acima do bem e do mal, em estado de pureza virginal. Muitas vezes, tem-se evidenciado nas ações governamentais um oportunismo primário. Assim tem sido na reforma da Previdência e na da administração e do Estado. Mas a tentativa de enfiar pela goela do povo a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), neste momento, mostra que nem mais de oportunismo se trata, visto que não se sabe ao menos escolher a hora propícia. Trata-se apenas de arrogância primitiva e avidez desmesurada para obtenção de dinheiro. Parece programa inspirado equivocadamente pelo excelente animador Silvio Santos. Pergunte-se: quem quer dinheiro? E o governo responderá em uníssono -eu, eu, eu... Empolga a campanha da CPMF o lema "Topa Tudo Por Dinheiro". Os mortos da "demodiálise" (é coisa mesmo do capeta) de Caruaru em breve chegarão à centena. Os velhinhos desamparados da Clínica Santa Genoveva já contam com mais de 90 mortos. A cada dia aumenta o placar funesto e vergonhoso. A imagem do ministro da Saúde, antes identificada com seriedade e competência, deteriora-se diante da sua impotência em face do desafio de fazer funcionar o seu ministério. Que se faça o mínimo. Se a ordem é terceirizar os serviços de saúde, é preciso que se controle a aplicação dos recursos e se obtenha um retorno adequado mediante a prestação de serviços de qualidade. O dinheiro do ministério deve ser empregado para preservar a saúde. E não servir para financiar agências de lucro fácil, provedores de infelizes personagens para o funeral. Não existe mais a aura altruística que consagrou o início da campanha da CPMF. A dura realidade apareceu. Trata-se de conseguir recursos para uma máquina de realizar lucros, aproveitando-se das doenças e sofrimentos do nosso povo desamparado. Osiris de Azevedo Lopes Filho, 56, advogado, é professor de Direito Tributário e Financeiro da Universidade de Brasília e ex-secretário da Receita Federal. Texto Anterior: Inversão de expectativas Próximo Texto: Infra-estrutura do Chile não satisfaz Índice |
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