São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Cantora tinha voz insuperável

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um dos últimos recitais de Ella Fitzgerald aconteceu em junho de 1988, no Kennedy Center, em Washington.
Ela ainda se recuperava de seus problemas cardíacos. Entrou no palco amparada por um rapaz e foi recebida com aplausos da platéia em pé, ao que respondeu: "Quando era jovem, costumavam me aplaudir de pé após eu cantar".
Então, ela cantou. Para quem não conhecia suas gravações, em especial as feitas ao vivo (como o antológico álbum "Ella in Berlin", de 1960, em que fez a mais notável versão de "Mack the Knife", de Marc Blizstein e Kurt Weill), a Ella do final dos anos 80 não impressionava muito. Os efeitos da idade e da doença sobre sua voz foram devastadores.
Mas a técnica perfeita de decomposição rítmica da melodia ainda estava lá, e, como disse ao subir ao palco, as pessoas não estavam ali para aplaudir a apresentação, mas a realização musical de 50 anos.
Com Billie Holiday (1915-1959) e Sarah Vaughan (1924-1990), Ella formou a santíssima trindade do jazz vocal. Holiday era mais intensa e apaixonada; Vaughan, talvez mais criativa nas improvisações.
Mas ninguém superou Ella na clareza da voz e na capacidade de ir dos tons mais graves aos mais agudos em segundos e sem perder a entonação perfeita.
Nenhum outro intérprete antes ou depois dela usou a voz como se fosse um instrumento musical integrante da orquestra.
Ella foi notável também por ter sido a maior demonstração de como um empresário e produtor talentoso pode transformar a carreira de um grande artista.
Talvez ela tivesse se tornado tão famosa e respeitada se Norman Granz não tivesse aparecido na sua vida. Mas é difícil. Granz lhe deu credibilidade com a infra-estrutura musical que forneceu a ela para o projeto "song books".
Em 1972, quando sua carreira parecia estar em decadência, Granz a resgatou com o novo selo Pablo e com um grande projeto, o de seus duetos com músicos notáveis.
(CELS)

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