São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996 |
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Cantora tinha voz insuperável
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Ela ainda se recuperava de seus problemas cardíacos. Entrou no palco amparada por um rapaz e foi recebida com aplausos da platéia em pé, ao que respondeu: "Quando era jovem, costumavam me aplaudir de pé após eu cantar". Então, ela cantou. Para quem não conhecia suas gravações, em especial as feitas ao vivo (como o antológico álbum "Ella in Berlin", de 1960, em que fez a mais notável versão de "Mack the Knife", de Marc Blizstein e Kurt Weill), a Ella do final dos anos 80 não impressionava muito. Os efeitos da idade e da doença sobre sua voz foram devastadores. Mas a técnica perfeita de decomposição rítmica da melodia ainda estava lá, e, como disse ao subir ao palco, as pessoas não estavam ali para aplaudir a apresentação, mas a realização musical de 50 anos. Com Billie Holiday (1915-1959) e Sarah Vaughan (1924-1990), Ella formou a santíssima trindade do jazz vocal. Holiday era mais intensa e apaixonada; Vaughan, talvez mais criativa nas improvisações. Mas ninguém superou Ella na clareza da voz e na capacidade de ir dos tons mais graves aos mais agudos em segundos e sem perder a entonação perfeita. Nenhum outro intérprete antes ou depois dela usou a voz como se fosse um instrumento musical integrante da orquestra. Ella foi notável também por ter sido a maior demonstração de como um empresário e produtor talentoso pode transformar a carreira de um grande artista. Talvez ela tivesse se tornado tão famosa e respeitada se Norman Granz não tivesse aparecido na sua vida. Mas é difícil. Granz lhe deu credibilidade com a infra-estrutura musical que forneceu a ela para o projeto "song books". Em 1972, quando sua carreira parecia estar em decadência, Granz a resgatou com o novo selo Pablo e com um grande projeto, o de seus duetos com músicos notáveis. (CELS) Texto Anterior: Ella Fitzgerald morre aos 78 nos EUA Próximo Texto: Ella já nasceu pronta Índice |
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