São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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MIL CANAIS

Quadrinhos também são cultura. Esta semana a Folha publicou na tira "Dilbert", assinada por Scott Adams, um dito bastante revelador dos novos tempos: "Bem, Noriko, a verdade é que a sua geração terá de trabalhar em tempo integral e estudar durante toda a vida... Isso se arranjar trabalho. Em compensação, a televisão terá mil canais".
De fato, o mundo assiste hoje a um processo extremamente delicado de transição da era industrial para algo que ninguém ainda sabe ao certo o que será. Sabe-se, contudo, que tem algo a ver com informação e os métodos para a sua transmissão.
A globalização da economia aliada à revolução tecnológica, que substitui trabalhadores por computadores e robôs, levaram a um ambiente de extrema competitividade.
Daí a explicação para as duas primeiras frases acima mencionadas. Achar emprego fica cada vez mais difícil e, para manter-se no posto, será necessário trabalhar muito e estar sempre atualizado.
A última frase é uma alusão à revolução tecnológica, principalmente na área das telecomunicações (transmissão de informação), que, por sua vez, é um dos ingredientes que contribuíram para a formação das crescentes massas de mão-de-obra que não encontram ofertas de emprego.
Ao mesmo tempo em que se cria uma elite muito bem formada e bem remunerada, amplia-se o número dos excluídos, daqueles que não encontram nem mesmo uma forma de obter dinheiro suficiente para alimentar-se e às suas famílias.
Ou seja, está-se armando uma bomba social que, se nada for feito, poderá explodir provocando consequências funestas. Mil canais de televisão não alimentam ninguém, muito menos aqueles que nem sequer possuem um aparelho de TV.
O sistema de proteção social europeu, o chamado Estado do Bem-Estar Social, que garante um mínimo de condições de sobrevivência para desempregados, aposentados etc., atravessa uma séria crise, mas ainda parece ser a melhor (senão a única) forma de ao menos atenuar o daninho processo de exclusão social que o mundo experimenta.

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