São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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É irreal

HÉLIO SCHWARTSMAN

São Paulo - O Real ruiu. A frágil base de capitais especulativos sobre a qual o plano se sustentava solapou depois das críticas ao Real feitas pelo economista-chefe do maior banco do mundo, o Banco da Província de Xangai Independente, Kau Pi Tao, discípulo do célebre alemão Rudiger Dornbusch. A inflação galopante retornou, devedores em dólares estão cometendo suicídios em massa, o desemprego formal atinge a impressionante marca de 35% da população economicamente ativa, e o país acaba de declarar moratória interna e externa.
Enquanto isso, o presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu oitavo mandato, afirma que necessita do apoio do Congresso na aprovação da reforma da Previdência para reestabilizar a economia.
O líder do PT, Antônio Carlos Magalhães Neto, exigiu a renúncia do presidente e, no caso de FHC não deixar seu posto, ameaçou unir-se à guerrilha de Garanhuns, chefiada pelo Major Dasein, que, se supõe, seja o filósofo neomarxista José Arthur Giannotti, ex-primeiro-amigo do presidente.
Na área social o quadro não é menos trágico. O nonagenário Betinho entrou em greve de fome em apoio às reivindicações do MSN (Movimento dos Sem-Nada). A principal exigência do MSN é encontrar algo para exigir.
Alguns contudo continuam otimistas. Em São Paulo, foi com alarde que André Franco Montoro Neto anunciou a privatização da Ceagesp.
No plano internacional também reina a tensão. Depois da histórica vitória de Ziuganov e da volta do PCUS ao poder na Rússia e a consequente reestruturação da URSS, que conta agora também com as Repúblicas Socialistas Soviéticas da Polônia e da Alemanha, a nova superpotência mundial ameaça anexar a França. A presidente Danielle Mitterrand mudou a sede de governo de Paris para Vichy.
Em tempo, essa é uma modesta contribuição ao Mais! de hoje, cujo tema é "O dia em que o real acabou". Agradeço o espaço cedido por Clóvis Rossi.

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