São Paulo, domingo, 16 de junho de 1996
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Números esquisitos

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Hoje é domingo, dia para amenidades. Mas esta coluna apresentará alguns números para os leitores. O objetivo é jogar um pouco de lenha na fogueira da discussão sobre a situação da economia.
Um dos principais indicadores -embora não seja definitivo- da imagem econômica internacional do país é o mercado secundário de dívida externa. Um mercado de profissionais da especulação. Gente que arrisca muito, mas que detesta perder.
Bem-informado, o investidor no mercado secundário quer saber tudo sobre o país onde põe seu dinheiro. Basicamente, compra papéis de dívida externa que vencerão no futuro por um preço menor do que o fixado.
Um papel cujo valor seja US$ 100 mil pode ser comprado por, digamos, US$ 75 mil. Esse deságio varia. É nisso que o especulador aposta. Compra hoje por R$ 75 mil e vende no mês que vem por R$ 80 mil. Nesse meio tempo, ainda embolsa os juros que o papel paga.
Um país com a economia nos eixos tem sua dívida valorizada. Se a economia vai mal, é sinal de que pode haver calote. E a cotação despenca no mercado secundário.
Agora, uma pergunta: é correto dizer que o Brasil anda meio em baixa por causa das críticas de Rudiger Dornbusch e, por isso, os papéis da dívida brasileira têm rendido menos do que os do México e da Argentina?
A resposta é um grande não.
Neste ano, até o dia 10 passado, os papéis brasileiros haviam valorizado a enormidade de 11,1% -entre aumento de cotação e juros pagos. Em contrapartida, os títulos mexicanos tinham rendido apenas parcos 3,9%. No caso da Argentina, só 3,6%.
Números curiosos, esses. Estariam os especuladores externos, de forma inédita, querendo perder dinheiro no Brasil? Ou será que a situação econômica brasileira não está essa catástrofe que alguns vêm apregoando?
É pena que nem o governo brasileiro saiba responder com segurança a essas perguntas.

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