São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 1996
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Barril de pólvora?

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Quando se refere ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o presidente FHC usa apenas a sigla da organização. "É o MST", responde, seco, ao ser indagado sobre qual seria um de seus principais problemas.
Não é, a rigor, uma novidade que o MST seja um grande problema para FHC. Novo é que o presidente e seus assessores mais próximos agora têm quase certeza que os focos de tensão pela posse da terra no país estariam completamente fora de controle.
É uma avaliação controversa. É raro encontrar no Brasil, hoje, movimento mais organizado e hierarquizado que o MST.
Na dúvida, o chefe de gabinete do Ministério da Justiça, José Gregori, anda à caça de interlocutores.
No domingo passado, Gregori conversou com o cardeal arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns. Saiu do encontro com os nomes de alguns integrantes da Igreja Católica que podem ajudar na interlocução que o governo deseja ter com líderes dos trabalhadores sem terra.
Gregori tem se esmerado em receber líderes do MST. Quando saem de sua sala, segundo Gregori relata a amigos, dão a impressão de não ter controle sobre invasões.
Tudo isso tem levado o governo FHC a referir-se ao MST como um "barril de pólvora".
A julgar pelo número de vezes que a expressão frequentou colunas de jornais nos últimos dias, os tucanos logo conseguirão se eximir de qualquer responsabilidade.
Existiria um "barril de pólvora" fora de controle até do MST. Faltam interlocutores. A boa vontade seria sempre suplantada pelos extremistas que patrocinam atos aparentemente tresloucados como o do Maranhão.
Não seria mais simples reconhecer que o MST é o principal interlocutor dos sem-terra e tentar uma negociação formal?
Não. Para FHC, o importante não é apenas fazer a reforma agrária. O importante é fazer a reforma agrária e aniquilar o MST.

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