São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 1996
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Esquema Parmalat é choro de mau perdedor

PASQUALE CIPRO NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Além do idioma, minha grande paixão é o futebol. Mas futebol, não guerra. Futebol, não estupidez. Sempre gostei de jogadores clássicos, como Roberto Dias e Ademir da Guia. Sempre gostei de times mágicos -o Santos de Pelé, o Palmeiras de Ademir, o Cruzeiro de Tostão, o Inter de Falcão, o Flamengo de Zico.
O time do meu coração não é nenhum desses. Cresci na Mooca, bairro de São Paulo. Sou juventino. Amo aquela maravilhosa camisa grená.
Quando me perguntam qual é meu segundo time, não hesito: é o futebol. Torço para o futebol. Bem jogado, limpo, sem violência e sem vulgaridade. Não suporto o "ganhar a qualquer preço". Não suporto o "vale até gol de mão".
O futebol é um terreno propício a um grande número de declarações infelizes, grosseiras. Pouca gente sabe perder. E pouca gente sabe ganhar. Sim, saber perder é tão importante quanto saber ganhar.
Pois bem. Desde que a Parmalat assumiu a co-gestão do Palmeiras, corre à boca pequena que existe o "esquema Parmalat", que dá ao Palmeiras títulos que normalmente ele não conseguiria. Afinal, os times que o Palmeiras pós-Parmalat formou são fraquíssimos, cheios de pernas-de-pau. Não fosse o "esquema", o velho Palestra não teria ganho nem sequer um título.
Não sou escoteiro, não sou ingênuo para achar que não existe corrupção no futebol. É claro que existe, existiu e existirá. Mas só um bobo ainda não se convenceu de que não existe o tal esquema.
Vejamos. O Grêmio foi o grande prejudicado em Porto Alegre, certo? Errado. Quem assistiu ao jogo viu que deveriam ter sido expulsos três gremistas -Arce, que bateu à farta, Paulo Nunes, que chutou um palmeirense depois da correta expulsão de Sandro, e, como já o definiu muito bem o nosso Matinas, o moleque poltrão Danrlei, que chutou Cafu. Não viu quem não quis.
Mas, depois que o tira-teima da Globo mostrou que o terceiro gol do Grêmio foi bom, pronto! Foi o esquema Parmalat! Fico pensando por que só se fala em esquema Parmalat.
Por que não se fala em esquema Renner? O Grêmio, no melhor estilo subdesenvolvido, faz o diabo no Olímpico, e seu estádio não é interditado. Por que não se fala em esquema Suvinil, do grupo Basf, perto do qual a Parmalat é uma pulga? E o esquema IBF-TAM? Claro que falar em esquema Renner, Basf ou IBF-TAM é tão delirante quanto falar em "esquema Parmalat".
Se existe "esquema Parmalat", é, sem dúvida, incompetente. Não foi capaz de fazer o Juventude-Parmalat perder para o Palmeiras, em 95, para classificar a matriz. Não foi capaz de fazer o Palmeiras ganhar nada em 95. Não foi capaz de fazer o árbitro de Palmeiras 5 x 1 Grêmio, em 95, esticar o jogo até o sexto gol. E não foi capaz de, em pleno Parque Antarctica, fazer o Palmeiras derrotar o Cruzeiro.
Parabéns a Seraphim del Grande, que, elegante como sempre, depois do jogo de anteontem, cumprimentou o Cruzeiro, pela merecida vitória. Parabéns a Luxemburgo, que fez o mesmo. Parabéns ao Cruzeiro. Aos que sabem perder. E aos que sabem ganhar.

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