São Paulo, sábado, 22 de junho de 1996
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Handbag é a nova mania das pistas

Gênero chega ao Brasil

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

Um novo gênero de dance music chega ao Brasil. É o handbag, variação comercial, acessível e pop da house music.
Noites específicas de handbag conquistam espaços fixos nos clubes de São Paulo. DJs dedicados a esse estilo se tornam mais populares. Os que não tocam handbag incluem alguns dos hits absolutos para agradar o público, na pista.
As importadoras de CD já trazem as coletâneas feitas em Londres e os singles dos principais expoentes; gravadoras se preparam para soltar, no Brasil, discos com as faixas do momento do handbag.
Ao mesmo tempo, puristas e clubbers da cena underground de todo o mundo torcem o nariz para o gênero, que se impôs internacionalmente a partir de Londres.
Em inglês, handbag significa, literalmente, bolsa de mão. A denominação apareceu no início dos anos 90, quando as garotas de subúrbio londrinas iam (como ainda vão) aos clubes, deixando bolsas e mochilas no meio da pista e dançando em volta.
Amadorismo clubber
Considerado cafona por "insiders" da cena, este procedimento passou a caracterizar um certo amadorismo clubber.
Roupas bregas, histeria para arranjar namorado no clube e preferências musicais duvidosas amarravam o conceito todo.
Assim, ao final de 92, handbag music já era o tipo de house de que gostavam essas garotas -batizadas, por sua vez, de "Tecno Tracys".
Suas características: vocais femininos melosos, refrões grudentos, batida acelerada, animada e "pra cima". Tanto que uma variação do nome chegou a ser "happy house" (house feliz).
"BPMs altos com pianos festivos, riffs bem pegajosos de tecno mais comercial e samples de vocais femininos", explica o DJ Renato Lopes, 32 anos, 10 de noite, na enciclopédia clubber que vai publicar este ano.
Os tipos mais rápidos e nervosos do handbag foram chamados então de hardbag, caracterizando-se ainda pelas viradas de bateria que põem fogo nas pistas de dança.
Preconceito
Tanto apelo comercial assim só podia resultar em preconceito. "Todo mundo toca handbag e ninguém toca handbag", brinca o DJ norte-americano Rick Mitchell, que tocou no Rio no início do mês, na festa LAB.
O próprio Mitchell é, sob definição, um DJ Hi-NRG -gênero que apadrinha o handbag com sua batida acelerada (por volta de 145 BPMs) e histérica. Significa alta energia, em inglês; pronuncia-se "rai energi".
O preconceito aparece também nas revistas de DJs internacionais, que norteiam o mercado e o que vai tocar nas pistas. A primeira a se render ao estilo foi a nova publicação inglesa "Muzik", que abriu uma seção só para handbag assinada por um certo Joey Bolsadura.
Prova de popularidade e de aceitação foi a noite da DJ inglesa Rachel Auburn no último sábado em Brasília, quando 4 mil pessoas dançaram numa pista armada no meio da praça principal do Park Shopping.
"Ela fez todo mundo feliz", comemora o produtor do evento, Roberto Pedroza, 33, o Betinho.
Eurobaba
"É um tipo de som que tem futuro por aqui. É de fácil assimilação e gruda na cabeça", concorda o DJ-revelação Zozó, 25, três anos na profissão, residente às sextas e sábados no clube A Lôca.
Mesmo com dois incontestáveis tops do handbag no case -Candy Girls e Yosh-, Zozó diz que "gosta mais ou menos": "A batida rapidinha me irrita um pouco".
"Não gosto, mas não abomino", opina Gil Barbara, 27, oito anos como DJ, perto de seus discos de tecno.
"Quando começou, o handbag era mais simpático. Agora caiu na mesmice, na forma da Eurobaba", diz Barbara, com Eurobaba significando um tipo de som desenvolvido a partir do Europop, o pop europeu, mais baba, bobagem de fácil consumo e pouca qualidade.
"Mas tem que ter lugar para o handbag no Brasil, sou democrático", completa Barbara.
Gap "Não posso fechar meus olhos para o handbag", justifica o carioca Felipe Venancio, 27, dez de DJ, tocando house e garage.
Segundo ele, o handbag preenche um gap entre o garage e a Hi-NRG. "A Hi-NRG exige pouco de quem está na pista, em termos de conhecimento musicais, ao contrário do garage. Há músicas de handbag que ficam no meio -até porque estão envolvidos top-produtores como Junior Vasquez e David Morales."

IMPORTADORAS DE CD - Mo'Better - 62-0108. Planet Music (853-0288). ENDEREÇOS - clube Massivo - al. Itu, 1.548, tel. 883-7505, às terças-feiras, com o DJ Edu Gantous. Rave - al. Bela Cintra, 1.900, tel. 883-2133. A Lôca - r. Frei Caneca, 916, tel. 257-1766.

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