São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Jobim e PF querem assumir investigação

KENNEDY ALENCAR

KENNEDY ALENCAR; ABNOR GONDIM
DO PAINEL

Ministro da Justiça e autoridades federais avaliam que trabalho da polícia alagoana está cheio de falhas

O ministro da Justiça, Nelson Jobim, e o diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, decidem hoje de manhã uma forma de assumirem oficialmente a investigação do assassinato de PC Farias.
O governo federal chegou à conclusão de que é fundamental a PF tirar a limpo todas as dúvidas que cercam a morte do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello.
É preciso, porém, um elemento formal (uma pista ou depoimento, por exemplo) que relacione a morte de PC às investigações federais sobre o Collorgate.
Chelotti, que voltou ontem de Maceió para fazer relato a Jobim, deixou uma clara orientação aos policiais federais que estão na capital alagoana: vasculhar o trabalho da Polícia Civil até obter justificativa legal que remeta o caso à PF.
Nelson Jobim e autoridades federais avaliam que o trabalho da polícia alagoana está cheio de falhas. Acreditam que, se a Polícia Federal não intervier, o governo de FHC pode ser responsabilizado por não ter esclarecido todas as dúvidas sobre um caso que simbolizou a podridão máxima da corrupção na política brasileira.
Apesar de o governo considerar que a hipótese de crime passional é muito forte, nos meios políticos em Brasília há uma desconfiança generalizada sobre as circunstâncias da morte de PC e sobre a rápida conclusão que é sustentada pela polícia alagoana.
Laudos
A Folha apurou que Chelotti tomou a decisão de viajar a Alagoas depois de receber relato do delegado Marcos Omena, de Maceió. Ele informou que estava enfrentando dificuldades para obter os laudos da polícia.
O ministro Jobim disse que, se houver necessidade, os laudos deverão ser analisados pelo Instituto Nacional de Criminalística, órgão de política científica da PF.
"Todos os indícios iniciais podem ser meramente especulativos, estando sujeitos à sua coincidência ou não com o resultado final", disse o ministro.
Disse que o principal interessado na apuração do caso é o presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Sendo ou não sendo um crime passional, não é um crime comum porque está inserido dentro de fatos que levaram à derrubada do presidente daRepública."
Interesses
Delegados da PF suspeitam que PC contrariou interesses de empresários de comunicação em Alagoas ao anunciar o lançamento do jornal "Tribuna de Alagoas".
Segundo eles, PC teria contratado os melhores profissionais das empresas do grupo empresarial ligado à família Collor para montar o seu jornal.
Para eles, a polícia de Alagoas foi precipitada ao anunciar a versão de assassinato seguido de suicídio sem a conclusão da autópsia. A PF diz não ter pistas sobre as supostas ameaças a PC.

Colaborou Abnor Gondim, da Sucursal de Brasília

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