São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Jobim e PF querem assumir investigação

KENNEDY ALENCAR

KENNEDY ALENCAR; WILLIAM FRANÇA; RICARDO AMORIM; ABNOR GONDIM
DO PAINEL

Ministro da Justiça e autoridades federais avaliam que trabalho da polícia alagoana está cheio de falhas

O ministro da Justiça, Nelson Jobim, e o diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, decidem hoje de manhã uma forma de assumirem oficialmente a investigação do assassinato de PC Farias.
O governo federal chegou à conclusão de que é fundamental a PF tirar a limpo todas as dúvidas que cercam a morte do ex-tesoureiro de Fernando Collor de Mello.
É preciso, porém, um elemento formal (uma pista ou depoimento, por exemplo) que relacione a morte de PC às investigações federais sobre o Collorgate.
Chelotti, que voltou ontem de Maceió para fazer relato a Jobim, deixou uma clara orientação aos policiais federais que estão na capital alagoana: vasculhar o trabalho da Polícia Civil até obter justificativa legal que remeta o caso à PF.
Nelson Jobim e autoridades federais avaliam que o trabalho da polícia alagoana está cheio de falhas. Acreditam que, se a Polícia Federal não intervier, o governo de FHC pode ser responsabilizado por não ter esclarecido todas as dúvidas sobre um caso que simbolizou a podridão máxima da corrupção na política brasileira.
Apesar de o governo considerar que a hipótese de crime passional é muito forte, nos meios políticos em Brasília há uma desconfiança generalizada sobre as circunstâncias da morte de PC e sobre a rápida conclusão que é sustentada pela polícia alagoana.
Laudos
Chelotti, disse que "ainda não há nada conclusivo" e que "não está descartada nenhuma das duas hipóteses: crime passional ou queima de arquivo".
Segundo o diretor da PF, "os laudos são ainda preliminares". Uma vez concluídos, se ainda restarem dúvidas, poderá ser pedida a exumação dos corpos.
Interesses
Delegados da PF suspeitam que PC contrariou interesses de empresários de comunicação em Alagoas ao anunciar o lançamento do jornal "Tribuna de Alagoas".
Segundo eles, PC teria contratado os melhores profissionais das empresas do grupo empresarial ligado à família Collor para montar o seu jornal.
Para eles, a polícia de Alagoas foi precipitada ao anunciar a versão de assassinato seguido de suicídio sem a conclusão da autópsia. A PF diz não ter pistas sobre as supostas ameaças a PC.
Alto poder letal
O presidente da Associação Brasileira de Criminalística, Wanderlei Chagas, afirmou à Folha os projéteis usados no crime são de alto de poder letal.
Chagas disse que o exame que detectou pólvora na mão direita de Suzana não é definitivo para provar o suicídio. Para ele, seria necessário comprovar se havia resíduo de cartuchos em suas mãos.

Colaboraram WILLIAM FRANÇA, RICARDO AMORIM e ABNOR GONDIM, da Sucursal de Brasília

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