São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Falta a fina flor do futebol na Eurocopa-96

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Zubizarreta; Reiziger, Nadal, Couto e Maldini; Albertini, Letchkov, Hagi e Michael Laudrup; Stoichkov e Suker. Como? Se já estou adiantando a seleção desta Eurocopa?
Não: este é só um exemplo da fina flor do futebol europeu que ficou fora das semifinais do torneio, sem contarmos os que, como Baggio, Matthaeus, Cantona, Ginola etc., nem sequer foram à Eurocopa.
Em contraposição, tente armar uma seleção com os quatro restantes, e verá que, com algumas poucas exceções, tipo Mathias Sammer, Klinsmann, Blanc e MacManaman, esse jovem driblador inglês no lugar do afamado Gascoigne, de participações episódicas, não haverá brilho equivalente.
Resumindo: não há lugar para as estrelas cintilantes nesse universo opaco em que se estão transformando os campeonatos internacionais de seleções. E aqui peço a bola levantada há tempos pelo Matinas, esmerilhada pelo Benevides e dominada ontem pelo Juca: será o fim dessa picada, que já foi a Via Láctea do futebol?
Diante do êxito comercial que tem sido essa Eurocopa e deverá ser o próximo Mundial, a expectativa é de longa vida para tais torneios. A não ser que a queda de qualidade técnica, a opacidade do espetáculo, cada vez mais evidentes, acabem por sugerir ao marketing do evento o óbvio: o charme, o sentido, a própria essência de uma seleção é a possibilidade rara de o torcedor de clube ver em ação, sob o mesmo símbolo, os melhores jogadores. Ou seja: ele quer o brilho máximo, não a cinzenta disputa por um caneco de valor intrínseco.
E o exemplo foi dado pela torcida brasileira, talvez a mais festiva do mundo, após a conquista da Copa de 94. Nem de longe, apesar de quase um quarto de século de espera, foi um carnaval comparável aos de 58, 62 e 70.
Naqueles, havia uma explosão de alegria. Neste, um travo de desapontamento. Como o futebol praticado.
*
A não ser por um golpe de mágica, o melhor jogador do torneio já se foi: o croata Suker, um centroavante artilheiro com toques de hábil armador. Uma jóia rara.
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Ingleses e alemães decidem hoje não quem é melhor no futebol. Mesmo porque, no cotejo de currículos, os alemães ganham de goleada. O que está em jogo é a tradição, posto que nenhum desses dois times está praticando um futebol de primeira linha, embora ainda assim os germânicos levem vantagem, com o líbero Sammer.
E, em matéria de tradição, Wembley é imbatível.
*
Se ingleses e alemães deverão jorrar emoções, para franceses e tchecos prevejo uma partida mais equilibrada e calculista. Isso porque a França é, antes de tudo, conjunto; quanto à República Tcheca, faço um repto: dêem-me um nome que se destaca, a não ser Patrick Berger, que só tem entrado no segundo tempo.

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