São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996 |
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Fofoca eletrônica provoca pânico
MARINA MORAES
O pânico foi originado pelo programa jornalístico "60 Minutos", da rede CBS, que é a versão televisiva do "The New York Times": todo mundo leva o que aparece ali tão a sério que qualquer controvérsia causa comoção nacional. No caso, foi uma reportagem sobre o uso do correio eletrônico. Na verdade, muito pouco do que se disse é novidade. Repetiu-se que essa forma de comunicação por computador está substituindo os telefonemas e as mensagens de fax. Que 20 milhões de americanos são usuários. Que a famosa conversa de corredor foi trocada pela fofoca por e-mail. O que deixou os telespectadores com a pulga atrás da orelha foi o resultado de pesquisa segundo a qual 36% das empresas americanas admitem que bisbilhotam o conteúdo das mensagens dos empregados. Pior: não há nenhuma lei para impedir isso. É consenso entre os especialistas que as companhias têm direito de fazer o que quiserem com o correio eletrônico de seus funcionários, uma vez que a comunicação é feita por computadores, modems e linhas telefônicas de propriedade das empresas. Lembra-se daquele bilhetinho que você mandou para a subordinada convidando-a para jantar? Nos Estados Unidos, pode ser a base para um processo por assédio sexual. E a mensagem para o colega, criticando o chefe? Aqui, bastaria uma cópia impressa do e-mail para justificar a demissão. Muita gente começou a usar o correio eletrônico achando que ele tem a garantia de privacidade da correspondência de papel. Que engano. Para começo de conversa, a mensagem viaja pela rede de computadores mais como se fosse um cartão postal, um embaralhado de códigos eletrônicos que pode ser interceptado e lido por muita gente. Se você acha que está protegido pela palavra-chave ou a tecla de apagar, outro engano. Pelo menos nos EUA, já existem especialistas em recuperar mensagens de e-mail. Num caso recente, uma secretária acusou o chefe de ter usado sua posição de poder na empresa para obrigá-la a ir para a cama com ele. O empresário pagou a um especialista para recuperar todas as mensagens de correio eletrônico que haviam sido mandadas e depois apagadas no computador da secretária. Numa delas, a moça diz que está com ciúmes da mulher do chefe e admite que está cansada da vida de amante. Lida a mensagem no tribunal, o júri concluiu que a secretária estava no caso por vontade própria e mandou arquivar o processo. A maioria dos analistas diz que, apesar dos problemas, o e-mail continua sendo a comunicação do futuro, porque a transmissão da mensagem custa bem menos do que o selo para mandar uma carta ou os impulsos num telefone ou fax. Eles sugerem que os empregados pressionem as empresas para que elas definam uma política clara sobre a privacidade das mensagens. Enquanto isso, é bom ir com cuidado. Se você está em dúvida sobre a disponibilidade do rapaz ou da moça, deixe o convite para a hora do cafezinho, como se fazia nos bons tempos. Texto Anterior: Reposição de disco passa de dois meses Próximo Texto: Empresas apostam em novos notebooks Índice |
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