São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 1996
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Greve geral (2)

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O quente é PC Farias em Maceió. Fora isso, em Brasília está tudo morno. FHC e ministros econômicos estão fora do país. Por isso, esta coluna segue refletindo sobre a greve do dia 21.
A grande dúvida, como registrado ontem, é se a greve prestou para alguma coisa. Justamente agora que o país parece voltar a crescer e a dar sinais claros de estabilização.
Por isso mesmo, a greve geral foi útil. Ajudou a combater a tendência natural ao sedentarismo, característica clássica das sociedades cansadas de reivindicar estabilização. A população cansa. Ninguém reivindica, ninguém protesta. Tudo se pasteuriza.
Ato contínuo, nesse marasmo, reduz-se a pressão sobre o governo. E quem chega ao poder, particularmente no Brasil, assume logo o discurso do "chega de choradeira". É fácil e óbvio. Muitos aderem com prazer.
Desnecessário dizer que, mesmo com a moeda estável, falta muita coisa para ser feita no Brasil. O governo FHC sabe disso. Até trabalha para implementar algumas mudanças que podem melhorar os indicadores sociais.
Mas é fato notório que o governo FHC também tem interesses políticos -e é legítimo que tenha. Por exemplo, FHC considera necessário que sua "obra" continue depois de seus quatro anos de mandato. Fala isso com sinceridade acadêmica, pois avalia que maneja o país da melhor forma possível -e melhor do que ninguém.
FHC quer fazer o seu sucessor. De preferência, deseja ficar ele próprio na cadeira. Só que esse projeto de reeleição se choca com outros, mais úteis à nação. O debate sobre reeleição tem efeito paralisante no Congresso. Reformas deixam de ser votadas.
A greve geral (que não foi geral) serviu, portanto, para explicitar outros interesses políticos a FHC. Forças dormentes, devidamente sacudidas, podem acordar. E, hoje, não são poucos os que chacoalham. Por isso, mesmo parcial, foi uma greve útil.
Amanhã, o movimento sindical.

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