São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Pai da reengenharia ataca o simples corte

DA REPORTAGEM LOCAL

O consultor norte-americano Michael Hammer, 48, diz que continua acreditando na reengenharia -processo de reorganização das empresas. Criador do termo, ele afirma o conceito não significa apenas corte de pessoal, mas "recomeçar o seu negócio".
Autor de best-sellers sobre o assunto e dono de uma empresa que dá aulas sobre reengenharia para cerca de 6.000 executivos por ano, Hammer concedeu, por telefone, esta entrevista exclusiva.
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Folha - Como o sr. define a reengenharia?
Michael Hammer - Reengenharia é recomeçar o seu negócio com uma nova folha de papel. Significa fingir que sua empresa não existe e inventá-la para satisfazer os interesses dos clientes.
Folha - Pode dar alguns exemplos?
Hammer - Sim. A Procter & Gamble repensou completamente seu sistema de distribuição. A Texas Instruments reavaliou seu processo de produção. A Kodak também iniciou uma nova forma de desenvolvimento de produtos. Há milhares de exemplos.
Folha - Mas o que exatamente elas fizeram?
Hammer - Vamos pegar um exemplo particular, o da Trane, uma fábrica de equipamentos de ar condicionado.
A empresa funcionava da seguinte forma: o pedido do cliente chegava e passava para uma série de departamentos. Um atendia o cliente, outro processava o pedido, outro fazia o cronograma de produção etc. A passagem de um departamento para outro na Trane trazia atraso e erros.
Agora a empresa montou times, que são grupos de pessoas com qualidades diferentes reunidas em um mesmo departamento. O que antes demorava 15 dias hoje demora 3.
Folha - Qual é a diferença entre reengenharia e processo de "downsizing"?
Hammer - "Downsizing" é simplesmente reduzir o número de funcionários. Na minha opinião, isso geralmente não funciona muito bem. Reengenharia é se livrar de trabalho desnecessário.
Folha - A reengenharia está sendo muito criticada atualmente. Afirma-se que as empresas estão perdendo empregados importantes e encontrando dificuldades.
Hammer - Essa crítica diz respeito ao "downsizing". Algumas pessoas usam o termo reengenharia quando estão se referindo a esse processo.
São críticas válidas, mas não à reestruturação.
Folha - Mas o sr. acha que a redução de pessoal pode ser perigosa às empresas?
Hammer - Sim. Concordo com a crítica.
Folha - O desemprego é crescente no mundo atual. A reengenharia não pode agravá-lo?
Hammer - Acho que não há opção. Na economia global é necessário que as empresas sejam competitivas. Se as empresas não adotarem a reengenharia, terão grandes dificuldades. Pode haver problemas a curto prazo, mas mais adiante o resultado é muito bom.
Folha - Que conselho o sr. daria às empresas brasileiras?
Hammer - A reengenharia é uma grande oportunidade para elas. Mas a reestruturação deve ser feita de acordo com a cultura brasileira.

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