São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Ataque à cartilha dos anos 80 vira moda

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Depois da moda da reengenharia que se disseminou pelas empresas, enriqueceu consultores, gerou livros best-sellers, provocou demissões em massa, surge agora outra moda nos Estados Unidos: atacar a reengenharia.
Impulsionadas pelas novas conquistas tecnológicas na microeletrônica, pela necessidade de reduzir custos e pela crescente competitividade internacional, as empresas apostaram na idéia de reestruturação do processo de decisão. O que, na prática, implicou em demissões em massa.
No auge da moda, consultores chegavam a ganhar cerca de US$ 1 milhão por mês, apontando onde cortar cabeças.
Na década de 90, começou-se a analisar os efeitos da reengenharia não mais em cima de pressupostos, mas dos números. Descobriu-se que, para a maioria das empresas, os ganhos foram nulos ou irrisórios. E, pior, muitas perderam lucratividade.
As demissões em massa e cortes abruptos de departamentos quebraram a cultura da empresa e provocaram desmotivação entre os funcionários que sobraram. Detectou-se até mesmo um comportamento próximo da sabotagem, um ressentimento com a empresa.
Foi afetado, portanto, o capital humano, decisivo na busca de maior produtividade e melhor qualidade. Psicólogos revelaram em pesquisas para escolas de administração que boa parte dos funcionários que restaram entraram em processo de depressão, sentindo-se, em parte, culpados pelos amigos. Passaram a aguardar o seu dia de demissão.
Diante desses resultados, alguns dos pais da reengenharia, tão badalada na década de 80, procuram artigos, comentando que a receita que os executivos aplicaram nas empresas fugiu ao que eles pregavam.
Disseram que os executivos encararam as demissões como parte central do processo de reengenharia -mas o central era a adaptação dos funcionários às novas tecnologias. Eles chegam a insinuar que as demissões serviram de pretexto. Como as empresas gastaram fortunas com os consultores e tinham de apresentar resultados imediatos no lucro, apelaram ao que parecia mais rápido e fácil: enxugar a folha de pagamento.
Os especialistas em recursos humanos quebram a cabeça sobre como encontrar soluções para um dilema. Com a rápida mudança tecnológica, é inexorável uma maior rotatividade. Mas, ao mesmo tempo, é decisivo ter o engajamento e dedicação dos empregados.
Empresas desenvolvem programas para ajudar a família do empregado, criam horários flexíveis, pagam profissionais até para cuidar dos filhos.
Notaram que quanto mais se ganha a confiança do empregado, maior é o retorno em produtividade.
Na busca de um caminho alternativo, as empresas apostam que se pode amenizar o trauma do desemprego. Em primeiro lugar, começa a surgir uma política de transparência: as empresas deixariam claro quais são os novos caminhos que vão trilhar e preparariam os funcionários para se aprimorar.
Mesmo que não seja possível essa adaptação, a empresa investiria no empregado, ajudando-o a ser competitivo no mercado -e, assim, cria-se o conceito tão em voga da "empregabilidade".

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