São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Matrix desbanca Boavista e torna-se o mais rentável

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O que pode ser melhor do que transformar chumbo em ouro, o velho sonho dos alquimistas? Resposta: comprar ações do Banco Matrix. É outra ilusão, já que elas não estão à venda.
Máquina de fazer dinheiro, em seus três anos de vida o Matrix multiplicou o capital dos sócios em 1.239%.
O capital inicial pulou de US$ 7,5 milhões em abril de 1993 para US$ 100 milhões em 1995. Recursos de terceiros administrados pela instituição passaram de zero para mais de US$ 1 bilhão no mesmo período.
No ano passado, o Matrix levou o troféu de "o mais rentável banco brasileiro", com retorno de 44,4% sobre o capital, após um lucro de US$ 44,6 milhões. Desbancou, assim, o Boavista, campeão do ano anterior e vice-campeão em 1995, com 36,5% de retorno sobre o patrimônio líquido.
Os fundos de investimentos do Matrix, em sua maioria voltados para estrangeiros, figuraram nos dois últimos anos entre os mais rentáveis do mundo, segundo publicações especializadas.
As melhores tacadas do Banco Matrix nesses fundos envolveram papéis da dívida brasileira e os complexos mercados de derivativos.
Muralha
Mas, afinal, o que é que o Matrix tem que os outros bancos não têm?
"Disposição para correr riscos, experiência e faro para oportunidades de ganho entre os mercados", responde o sócio Antônio Carlos de Freitas Valle, o Tom.
E o que é que o Matrix não tem que os outros bancos dizem que têm?
"Não temos a chamada 'Chinese wall', muralha que separa o que fazemos com nosso próprio dinheiro e com o dinheiro de nossos clientes", diz outro sócio, Roberto Moritz.
"Estamos todos sempre no mesmo barco, não dá para ter 'Chinese wall' num banco de 80 pessoas", explica Moritz.
Para as más línguas do mercado financeiro, o Matrix também derrubou a "Muralha da China" entre as ações da equipe econômica do governo e as ordens de compra e venda de ativos disparadas pelos operadores do banco.
'Relações perigosas'
É que entre seus fundadores estão dois nomes intimamente ligados ao governo federal: André Lara Resende, ex-diretor do BC, ex-negociador da dívida externa brasileira e um dos formuladores dos planos Cruzado e Real, e Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do BC e irmão do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, José Roberto Mendonça de Barros.
Luiz Carlos deixou o Matrix, no final do ano passado, para presidir o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Suas ações no Matrix foram compradas pelos demais sócios.
"Ele não voltará mais para o banco, mesmo depois de deixar o governo", afirma Tom.
Essa proximidade com o governo, ditador dos rumos dos juros e do câmbio -as duas principais variáveis econômicas por trás dos lucros do Matrix- garantiria ao banco o que os especialistas chamam de "inside information".
"Dizer que temos acesso a informações privilegiadas é besteira", reage Tom. "Perdemos dinheiro com a desvalorização do real em abril do ano passado."
Segundo ele, o segredo da rentabilidade do banco em 1995 estava aberto a todos os participantes do mercado financeiro: o diferencial entre os juros internos e os externos, que passou de 20%.

LEIA MAIS sobre o Banco Matrix à pág. 38

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