São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Riqueza plástica esconde subtexto erótico

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

"O Corcunda de Notre Dame" pode não ter o encanto e o frescor de 'À Bela e a Fera", nem a força trágica de "O Rei Leão", mas tem uma riqueza de textura (tanto plástica como dramática) rara no cinema de animação.
É possível que os adultos gostem mais do que as crianças. Mesmo edulcorada pelo padrão Disney de fantasia, a história criada por Victor Hugo e imortalizada no cinema por Lon Chaney e Charles Laughton mantém no desenho sua atmosfera perversa e perturbadora.
Além da ambiguidade com que é mostrada a Igreja (casa que abriga/ prisão que oprime), há um subtexto erótico tratado com muita habilidade na versão Disney: o austero Frollo quer destruir Esmeralda por não suportar a atração que ela exerce sobre ele.
A intolerância como fruto do desejo sexual frustrado -eis a "moral" adulta desse desenho que, de resto, eleva a heróis os solitários e marginalizados do mundo.
Se, do ponto de vista do virtuosismo plástico, a sequência mais impressionante é a do festival de touros, com seus 6.000 "figurantes" e uma profusão de cores e movimentos, a cena mais significativa dramaticamente é aquela em que Frollo é atormentado pelos fantasmas da culpa e da punição.
Diante de uma lareira em que as labaredas mimetizam formas femininas, ele vê surgirem figuras encapuzadas e inquisidoras, sombras de cruzes, reflexos do inferno.
As metamorfoses do fogo, os jogos de sombra e luz que formam a forração estética desse belo desenho encontram ali um momento antológico e inesquecível.

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