São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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Brasileira acha difícil processo contra EUA

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A pesquisadora brasileira Theresa Imanishi-Kari ainda não decidiu se vai processar o governo dos EUA por perdas e danos provocados pelo tempo em que ficou sob suspeita de fraude, da qual foi absolvida na sexta-feira passada.
Em entrevista exclusiva à Folha, por telefone, ela falou sobre o seu "pesadelo contínuo" nos últimos dez anos. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
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Folha - Como a senhora avalia a maneira como os brasileiros reagiram ao seu caso?
Imanishi-Kari - Estou fora do Brasil há muito tempo, desde 1968. Minha família foi muito solidária. Os cientistas brasileiros que eu conheço sempre disseram não acreditar na acusação. Mas a maioria dos jornais, e em especial a Folha, foi muito ruim. Eles seguiram a linha que o " The New York Times" deu ao caso e nunca deram o meu lado da história.
Folha - Por que a senhora acha que as acusações foram feitas?
Imanishi-KKari - Foi uma coisa política. No princípio, não havia qualqer acusação de fraude, era só uma questão de divergência na interpretação dos resultados da pesquisa. A coisa cresceu porque dois cientistas que não produziam nada há dez anos resolveram fazer promoção pessoal às custas de ataques contra nós e porque um deputado estava queria o controle das verbas do governo para ciência.
Folha - Quuais os motivos de sua primeira acusadora, Margot O'Toole?
Imanishi-Kari - Acho que no começo ela estava sendo honesta, tinha problemas com o resulttado da pesquisa. Mas deve ter tido seus problemas pessoais também. Eu não podia trazê-la comigo para meu novo emprego na Tufts e ela ficou aborreciida com isso.
Folha - Como a senhora se sente agora?
Imanishi-Kari - Estou feliz, em especial por meus pais e minha filha, que sofreram uma grande agonia. A pior coisa para uma familia é ver um de seus membros ser chamado de desonesto.
Folha - A senhora pretende processar o governo?
Imanishi-Kari - Acho difícil. Em dois casos similares ao meu, cientistas absolvidos perderam suas ações. E eu já estou cheia desse assunto. Talvez o melhor seja esquecer.
Folha - Como está sua saúde?
Imanishi-Kari - Eu sofro de lupus, que graças a Deus não mata. Tenho períodos melhores e piores. Quando está mal, sinto muito cansaço, o sistema imunológico ataca meus tecidos não os invasores. Mas em períodos de muito trabalho eu me sinto bem. E eu estou trabalhando muito agora.
Folha - Como foram estes anos?
Imanishi-Kari - Um pesadelo contínuo, muita insegurança, dificuldades. Mas não sou de ficar chorando lágrimas amargas. Fiz o que pude: trabalhei muito.

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