São Paulo, quinta-feira, 27 de junho de 1996
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SAMBATANGO

Já se falou em "efeito Orloff": o Brasil de amanhã seria a Argentina de hoje ou ontem. Depois vieram outros "efeitos", como o "tequila" ou mesmo o brasileiro "caipirinha".
Nos últimos dias todos esses efeitos foram esquecidos em meio à celebração, justificada, dos avanços no Mercosul. Mas, afinal, como anda o coração econômico-financeiro deste hoje tão louvado Mercosul?
Tanto no Brasil quanto na Argentina o fundamento fiscal da estabilização continua "flojo". Na Argentina, as notícias não são animadoras.
Há, é verdade, isso que o presidente Menem denomina a Segunda Reforma do Estado. Anunciam-se cortes de cargos, assessorias, secretarias e subsecretarias. É um rearranjo no organograma do Estado, mas que como reconhece o próprio governo não trará recursos para o Tesouro.
O presidente FHC elogiou, ou melhor, auto-elogiou a medida do colega argentino, dizendo que por aqui também andou eliminando ministérios. Como o brasileiro sabe que ele mesmo depois criou outros, fica a impressão de uma fina ironia.
Preocupante mesmo é a informação, divulgada ontem, de que o déficit fiscal vem contribuindo para aumentar a dívida pública da Argentina. Desde fins de 1989 o aumento foi de 41,4%, US$ 25,81 bilhões -um período em que se contou com um alívio de 35% (fruto do Plano Brady) e com a arrecadação de quase US$ 25 bilhões por meio de privatizações.
Mas o cenário se complica mais com a ameaça de processos contra o governo que poderiam levar a uma sangria de US$ 17 bilhões, contra os quais o ministro Cavallo vem insurgindo-se desesperadamente.
Enquanto isso, os juros nos EUA sobem, encarecendo o endividamento argentino. Como a situação fiscal e de dívida brasileira também não inspira tranquilidade, pode-se abandonar os "efeitos" e dizer que Argentina e Brasil seguem um compasso comum, que soa preocupante aos ouvidos, especialmente dos escaldados observadores internacionais.

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