São Paulo, domingo, 30 de junho de 1996
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'O problema se chama educação'

DÉCIO PIGNATARI

"Essa pessoa a que o Celso se refere, ela não entende um objeto de arte qualquer por que não gosta ou não gosta por que não entende? Como é que você explicaria, por exemplo, que essa mesma pessoa, supondo que tenha uma cultura média, deteste um retrato que não se parece com a pessoa retratada, que é deformado e por isso ela o detesta? No entanto, vamos supor que essa pessoa seja uma moça, uma senhora, uma mulher. Ela vai a uma loja de tecidos e fica decidindo entre padrões abstratos qual é o mais belo para comprar. Se essa pessoa encontrar um tecido pintado com um retrato que se pareça com alguma pessoa ela não vai gostar. Por que no mundo do consumo ela aceita o abstrato e no museu ela não aceita? (...)
Há uma noção que surgiu nos últimos 30 anos que talvez ajude a explicar: é a noção de repertório. Você só entende uma coisa que esteja dentro de seu repertório cultural. Se você não entende aqueles signos, ele está acima ou abaixo. É por isso que o problema, percebido há muito pelos gregos e sobre o qual estamos só começando a pensar, se chama educação. Você educa porque precisa que grupos, e não só pessoas, elevem o seu repertório para apreciar melhor."

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