São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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SEM FATALISMO

Nenhum tema econômico provavelmente mobilizou tantos debates no regime militar, em especial ao longo dos anos 70. A questão teve tratamentos variados e em cada momento cristalizou-se num enfoque específico, em geral de tonalidade fatalista: do modelo excludente à teoria do bolo, da denúncia do arrocho salarial às teses do capital humano, sem esquecer a tese da esquerda dos anos 70 que previa a estagnação da economia brasileira.
Houve equívocos de lado a lado: nem veio a estagnação, nem o modelo se mostrou capaz de efetivamente engendrar uma revolução educacional que reduzisse a desigualdade social. E a inflação, afinal, tornou-se crônica, servindo como fator aglutinador do movimento sindical, mas aprofundando a desigualdade e sacrificando mais os já pobres.
Os planos de estabilização, desde o Cruzado, deram margem a debates sobre distribuição de renda. Mas tratou-se sempre de avaliações sobre a maior ou menor neutralidade distributiva dos "choques".
Hoje, dois anos depois do real, o debate deixa a desejar. E há cada vez mais dúvidas sobre o perfil de distribuição de renda nos próximos anos.
Entre julho de 1994 e abril deste ano, a soma dos rendimentos dos que exercem algum tipo de trabalho, incluindo os assalariados, cresceu 89% na Grande São Paulo, contra um custo de vida que subiu 51,36% segundo o IPC da Fipe. Foram beneficiados principalmente os 25% mais pobres da população ocupada.
O desemprego, entretanto, reduz esse benefício, enquanto cresce o mercado informal. A população em condições de trabalhar cresceu mais do que a oferta de trabalho entre julho de 94 e maio passado, deixando um saldo de 213 mil desempregados a mais em São Paulo.
É urgente retomar o debate sobre alternativas capazes de ao mesmo tempo preservar a estabilidade e criar empregos. Sem ilusões, pois o drama é hoje mundial e não há soluções fáceis. Mas nada é pior que voltar aos fatalismos de vários matizes ideológicos das décadas passadas.

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