São Paulo, quarta-feira, 3 de julho de 1996
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As digitais da elite

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - No final do programa "Bom Dia, Brasil", o presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou o seu espanto em relação à maneira nebulosa como PC Farias enriqueceu.
Ingenuidade, presidente. Nada mais fácil de explicar: um golpinho aqui, as amizades políticas certas ali, um golpe maior mais adiante. Pronto, abre-se a porta da felicidade.
O que deveria espantar o presidente é outra coisa. As informações que toda a mídia está divulgando sobre PC, depois de morto, revelam um submundo, um pântano comportamental terrível.
Pois bem: foi a um dos símbolos desse submundo que boa parte da elite brasileira prestou vassalagem, nos tempos em que PC Farias era o todo-poderoso caixa de campanha de Fernando Collor.
Por um momento que seja, vamos ser absolutamente honestos conosco mesmo: PC comprou um mandato presidencial não com o seu dinheiro, mas com o que saiu de uma fatia ponderável da elite brasileira.
PC, hoje, é apenas uma foto macabra, de olhos abertos e um buraco de bala no peito, em um BO de delegacia.
O que há de espantoso, de revoltante, de virar o estômago é que essa fatia da elite continua sendo foto de coluna social, de noticiário econômico e político e até, em alguns casos, da lista da revista "Forbes" dos homens mais ricos do mundo.
É razoável supor que o perito criminal Badan Palhares não conseguirá apontar, com absoluta precisão, quem matou PC Farias. Faltam, a esta altura, elementos essenciais para uma investigação criminal perfeita.
Mas estão preservadas as digitais que a elite deixou na sua ânsia de entronizar no poder outro membro ilustre desse submundo que agora vem à tona. Nomes, sobrenomes, CIC e RG figuram nos relatórios da CPI do chamado "Collorgate".
Se este país tivesse um pingo de vergonha, estaria clamando, mais do que nunca, por um e mil Badan Palhares mergulhados nessas digitais.

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