São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Consultores apontam falhas

DANIELA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Preços não compatíveis com os praticados por lojas do ramo, estoques altos, erro na escolha da clientela alvo e insistência da família De Boutton em permanecer no controle foram alguns erros cometidos pela Mesbla, segundo consultores do varejo.
Gustavo Ayala, especialista em redes de varejo, afirma que a Mesbla insistiu em comercializar produtos para os quais já havia muita concorrência. "Para competir com outras lojas, a Mesbla criou uma estrutura cara de atendimento ao cliente, que a fez praticar preços muito elevados."
Ayala diz que o estoque da Mesbla era "monumental", consumindo todo seu capital de giro. "O consumidor não encontrava nunca os produtos básicos, mas dispunha de várias ofertas de produtos que não interessavam."
Manter atividades que não davam lucro também foi um erro.
O consultor Claudio Felisoni diz que a Mesbla errou ao escolher seu público alvo, mulheres de 25 a 40 anos. "Pessoas de maior poder aquisitivo compram em boutiques. As que estão acostumadas com lojas de departamentos não compram na Mesbla em razão dos preços altos."
Felisoni diz que a gestão familiar e o fato de a Mesbla não ter grande participação em São Paulo contribuíram para agravar a situação.
Uma consultora que não quis se identificar afirma que a ausência da Mesbla no mercado paulista foi uma falha, mas não um fator prejudicial. "A empresa estava bem implantada no Nordeste, onde a concorrência é menor."
Segundo ela, a empresa teria conseguido, por meio de uma reestruturação, voltar a ser operacionalmente lucrativa após a crise que enfrentou no início dos anos 90. "O problema é que os lucros não foram suficientes para cobrir a dívida estrutural e os juros."
A consultora diz que os credores teriam feito acordo se a família De Boutton tivesse concordado em diluir sua participação na Mesbla.
Para Marcos Gouvêa de Souza, diretor da Gouvêa de Souza, era previsível que redes de lojas tivessem dificuldades financeiras.
"O varejo, no início dos anos 90, estava fragilizado financeiramente devido à recessão. Além disso, houve equívocos de gestão e de estratégias." Ele citou como exemplo, além da Mesbla, a Pernambucanas e a Casa Centro.

Texto Anterior: Empresa adia pagamento
Próximo Texto: CEF estuda reduzir dívidas muito altas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.