São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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Ieltsin fala em união e nacionalismo

Presidente propõe conciliação

JAIME SPITZCOVSKY
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Boris Ieltsin, reeleito na votação de quarta-feira, propôs ontem a seus rivais neocomunistas "o fim da divisão da Rússia em dois campos adversários". Disse ainda que seu novo governo vai reconduzir o país à condição de "grande potência", num sinal de ventos nacionalistas.
Com 98,2% dos votos apurados, Ieltsin teve 53,7%, e o neocomunista Guennadi Ziuganov, 40,4%. Escolheram a opção "contra os dois candidatos" 4,9%.
Ao falar em reconciliação na mensagem transmitida pela televisão, Ieltsin, 65, não mencionou entrega de cargos aos neocomunistas num novo governo.
Mas Ziuganov, 52, repetiu uma fórmula usada durante a campanha: "Nós estamos prontos para um governo de coalizão".
Na TV, Ieltsin aparentava ontem melhores condições de saúde do que nos dois dias anteriores à votação. O presidente não apareceu em público entre 26 e 30 de junho.
Circularam rumores até de morte ou de novo ataque cardíaco. Ieltsin já enfrentou problemas cardíacos duas vezes no ano passado.
Segundo a versão do governo, Ieltsin sumiu porque perdeu a voz com o esforço feito na campanha.
Num reflexo da vitória da plataforma pró-capitalismo de Ieltsin, as cotações de ações de empresas russas registraram uma alta de 8,8%. Investidores estrangeiros mantiveram cautela, com medo de instabilidade provocada pelos problemas de saúde de Ieltsin.
O presidente, em encontro no Kremlin, pediu ao premiê Viktor Tchernomirdin que permaneça no cargo. A indicação precisa ser aprovada pela Duma (câmara baixa do Parlamento).
Embora a Duma seja dominada pela oposição neocomunista-nacionalista, ela deve aprovar a permanência de Tchernomirdin, disse Guennadi Selezniov, presidente da Duma e aliado de Ziuganov.
A declaração de Selezniov sugere que está a caminho um acordo entre ieltsinistas e neocomunistas. Tchernomirdin não rejeitou a participação de aliados de Ziuganov em seu novo gabinete.
O premiê, no entanto, sinalizou conflito de poder com o general da reserva Alexander Lebed, o novo homem-forte do Kremlin na área militar e de segurança.
Lebed ficou em terceiro lugar no primeiro turno da eleição presidencial, com 15%, e seu apoio foi decisivo para a vitória de Ieltsin.
O general, que tem um cargo de caráter consultivo junto ao presidente, já indicou que quer influenciar também na economia.
"Não pretendo dar a ninguém parte de meus poderes", disse Tchernomirdin, sucessor de Ieltsin de acordo com a lei russa.
Lebed já propôs a recriação do cargo de vice-presidente, que ele quer assumir, para formalizar sua condição de sucessor e principal herdeiro político de Ieltsin.

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