São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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Ieltsin passa da impopularidade ao triunfo

JAYME SPITZCOVSKY
DO ENVIADO ESPECIAL

Uma radiografia da vitória de Ieltsin destaca três fatores para explicar o triunfo de um presidente que amargava altas taxas de impopularidade há apenas cinco meses: sentimento anticomunista, apoio de Lebed e a força da máquina eleitoral do governo em parceria com os meios de comunicação.
Em fevereiro, Ieltsin anunciou a decisão de buscar a reeleição. O ex-premiê Iegor Gaidar disse então que o presidente, com sua candidatura, ia dividir o "campo democrático" e assim selava a vitória neocomunista.
Mas no "campo democrático", Ieltsin navegou sozinho. Não surgiu um nome com densidade política suficiente para viabilizar uma campanha no maior país do mundo em território.
Ieltsin mobilizou o aparato governamental para fazer campanha. A Folha apurou que um dos vice-ministros do Trabalho, eleitor de Ziuganov, recebeu como missão viajar à Sibéria para promover a candidatura do presidente.
Apesar da impopularidade trazida pelas turbulências das reformas econômicas e da guerra na Tchetchênia, Ieltsin explorou o medo da restauração comunista. Disse que sua derrota representaria guerra civil e a volta dos campos de trabalhos forçados.
Enquanto em outros países da Europa central e oriental os ex-comunistas buscaram tornar seus partidos mais próximos da social-democracia, os neocomunistas russos fizeram algumas concessões ao capitalismo e ao nacionalismo, mas mantiveram símbolos como foice e martelo e o culto à personalidade do líder bolchevique Vladimir Lênin (1870-1924).
Os principais jornais e as emissoras de TV funcionaram como cabos eleitorais de Ieltsin. Dedicavam mais espaço ao presidente e se empenhavam em destacar aspectos negativos da campanha de Guennadi Ziuganov.
Jornalistas, como Ievgueni Kiseliov, apresentador do programa de TV Itogui (resultado, em russo), argumentaram que a opção ieltsinista era uma forma de se defender da censura que os neocomunistas trariam caso chegassem ao Kremlin, a sede do governo.
Outro fator decisivo para empurrar Ieltsin à vitória: o apoio de Lebed, que conquistou cerca de 11 milhões de votos no primeiro turno da eleição.
Entre 60% e 68% dos eleitores que apoiaram Lebed no primeiro turno votaram em Ieltsin na quarta-feira, avalia Nuzgar Betaneli, um dos principais cientistas políticos da Rússia.
(JS)

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