São Paulo, sexta-feira, 5 de julho de 1996
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Paulos Renatos

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Quando montava o seu ministério, FHC deixou que se propagasse uma idéia: ele procurava por muitos Jatenes. Era uma referência ao atual ministro da Saúde, Adib Jatene.
Falava-se num "ministério de Jatenes". Como se fosse essa a saída para um governo eficiente. FHC conseguiu só um Jatene. Ainda bem.
Jatene não conseguiu resolver os problemas estruturais de sua área. Sua maior obra é pregar no deserto pela aprovação do imposto do cheque para a saúde, a CPMF. É adepto do refrão "me dá um dinheiro aí".
Hoje, a julgar pelo que já foi feito, talvez FHC preferisse um ministério cheio de Paulos Renatos. O titular da Educação, Paulo Renato Souza, já tem serviço pronto para mostrar, um ano e meio depois da posse.
Erros e acertos na balança, parece que os acertos pesam mais. Entre os erros, está a obsessão por dar TVs e parabólicas para escolas sem condições de utilizá-las. Algo inútil.
Já o programa de merenda escolar foi elogiado pela ONU, num relatório divulgado em maio. Quase todo o dinheiro vira, de fato, merenda. Isso por conta da descentralização. Mais de 80% das cidades recebem as verbas e compram localmente os alimentos.
Paulo Renato já quase conseguiu aprovar uma emenda constitucional sua. Quer priorizar os gastos com educação de primeiro grau.
Os livros escolares chegaram a quase todas as escolas antes do início das aulas. Um feito inédito. O Orçamento previa um gasto de R$ 150,8 milhões com livros didáticos. Paulo Renato só gastou R$ 46,7 milhões.
Agora, o ministro está para anunciar um programa para erradicar o analfabetismo. De novo, com a mágica de gastar pouco.
O Orçamento prevê gastos, neste ano, de R$ 10,7 milhões no combate ao analfabetismo. O país tem cerca de 33 milhões de analfabetos. Paulo Renato quer dar início ao fim desse flagelo com apenas 0,08% do que foi torrado até agora com o socorro a bancos.
Se der certo, é um achado.
Se der certo.

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