São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996 |
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"Governo parou", diz presidente da SBPC
DA REPORTAGEM LOCAL A comunidade científica e a população brasileiras têm as mesmas queixas em relação ao governo: "Nunca houve pessoas tão boas e tão inoperantes na administração federal. Está tudo parado."A afirmação é de Sérgio Henrique Ferreira, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A entidade começa hoje sua 48ª Reunião Anual. O encontro será realizado na PUC de São Paulo, que completa 50 anos em 1996. "Oba-oba" Apesar da insatisfação dos cientistas com o "discurso vazio e a incapacidade de realizar" do governo, Ferreira acredita que a reunião da SBPC tem cada vez menos influência política -e mesmo cultural, pelo menos para as maiores cidades do país. "Em São Paulo, por exemplo, ela não tem quase importância. No interior a reunião ainda é um grande estímulo cultural. Politicamente, o encontro perdeu relevância com o fim do regime militar." "Se não fizermos reuniões menores para discutir problemas específicos e concretos de cada região os encontros vão virar 'oba-oba"', diz. Ditadura do mercado As questões nacionais que preocupam Ferreira e, segundo ele, os demais cientistas, são a reestruturação do Estado e o estímulo ao investimento privado em desenvolvimento científico e tecnológico. "Temos de fazer com que o capitalista brasileiro vá buscar conhecimento na universidade para que tenhamos um desenvolvimento industrial de verdade. Só investimento estatal não dá", diz. O pesquisador considera que só será possível avaliar a qualidade da produção científica brasileira quando ela for testada pela procura de uma indústria preocupada com o desenvolvimento. "O resto é nhenhenhém", diz. Ferreira é farmacólogo, pesquisador da USP. É considerado um dos cientistas brasileiros mais importantes. Descobriu uma droga contra hipertensão, de larga utilização, sintetizada a partir de veneno de jararaca. Apesar do apelo ao setor privado, Ferreira diz que também é importante discutir a "ditadura do mercado". "Governo e investidores têm de pensar quais áreas devem ser estimuladas e protegidas", opina o cientista, que não se diz defensor de reservas de mercado. "Na área de remédios, por exemplo, não temos experiência, não adianta. Mas para a química fina, ou para os motores elétricos, por exemplo, podemos pensar políticas de desenvolvimento industrial", diz. Para Ferreira, políticas de abertura descontrolada podem "arrebentar" o parque industrial brasileiro, como no caso das autopeças. "Os industriais viram comerciantes, montadores de peças importadas", avalia. SBPC na TV Pela primeira vez na história, a reunião vai ser transmitida ao vivo pela TV. A TV PUC vai cobrir o evento das 8h às 14h, diariamente, de 7 a 12 de julho, quando terminam as reuniões de trabalho. A TV PUC pode ser sintonizada no canal 20 das operadoras de TV paga ligadas ao sistema Net. Internet A agenda do encontro e outras informações sobre a reunião da SBPC podem ser obtidas no endereço http//www.sbpc96.org.br, na Internet. 48ª Reunião Anual da SBPC - Sessão Inaugural: Memorial da América Latina, hoje, às 19h. Texto Anterior: Tramitação durou 7 anos Próximo Texto: PUC cede campus e salva reunião de 77 Índice |
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