São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Muito bem, mas...

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

"Laudate Deum", ou Deus seja louvado, é uma expressão em latim que perdura desde o império romano. A louvação era usada tanto para saudar uma deidade quanto o próprio imperador.
Louvar com exagero atos do soberano é tão antigo quanto o fato de que isso é feito para ocultar dificuldades. Quem leu os cadernos especiais da imprensa sobre o dois anos de Real dificilmente deixou de ficar com essa impressão.
É justo reconhecer que o país está melhor hoje do que há dois anos atrás. Mas isso não justifica dizer que as críticas são irrelevantes. Por exemplo: a combinação inconsistente de juro alto e câmbio defasado é tratada com desdém.
Por outro lado, mantém-se a política junto com expedientes emergenciais. Daí vêm medidas díspares como o aumento da tarifa à importação de brinquedos, as cotas à importação de têxteis da Ásia, os altíssimos recolhimentos compulsórios dos bancos etc.
Ainda chegará o tempo de pagar a "modesta" dívida interna pública federal, que, em maio, atingiu R$ 151 bilhões. A dívida líquida do setor público junto a credores domésticos subiu para R$ 191 bilhões, segundo o BC, sem contabilizar dívidas potenciais com o FGTS, Proer...
Isso é considerado "pequeno", pois seria algo em torno de 30% do PIB. Mas o tamanho, neste caso, não é o mais importante. Napoleão Bonaparte tinha um metro e meio e fez o diabo na Europa. O que importa é o personagem e seu contexto.
Nesta ótica, o atual ritmo de crescimento e, principalmente, o perfil temporal da dívida pública indicam que nem tudo é céu de brigadeiro no horizonte onde paira o Real.

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