São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996 |
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Economia vai se aquecer, acham líderes
MILTON GAMEZ
É consenso que o segundo semestre deste ano será mais aquecido que o primeiro. Os motivos são o gradual desaperto do crédito ao consumidor, os incentivos à agricultura e às exportações e as medidas de proteção à indústria nacional contra as importações desleais. Afinal de contas, este é um ano eleitoral. Mas ninguém fecha com a previsão do presidente Fernando Henrique Cardoso de que o país irá crescer 4% neste ano, embalado por um aumento do PIB (soma dos produtos e serviços) da ordem de 6% ao ano em dezembro. Nessa questão, reina um certo otimismo moderado. O crescimento pode ficar entre 3% e 4,5% do PIB, mas certamente ficará acima de 3%. Pode-se afirmar que a elite econômica aceita o otimismo do governo quanto aos investimentos diretos estrangeiros neste ano, ao redor ou até maiores que US$ 6 bilhões. Porém, todos ressalvam que, para manter esse ritmo -fundamental para garantir o crescimento e o aumento do emprego-, o governo terá de acelerar as reformas administrativa, previdenciária e fiscal, além de reforçar as privatizações. Afinal, são essas as "iscas" dos dólares. A inflação, domada, mas não morta em dois anos de Real, ficará dentro das perspectivas do governo, entre 12% e 15% ao ano em dezembro. Pelo menos para a maioria dos entrevistados pela Folha. Foram ouvidos na enquete qualitativa sete economistas, sete empresários e presidentes de empresas e um líder sindical, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Confira as previsões na tabela da página ao lado. No clube dos empresários, Mario Amato, vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), é o mais otimista. Ele aposta num desemprego menor, crescimento maior (4,5%) e investimentos externos acima de US$ 6 bilhões em 1996. Também leram suas bolas de cristal Luiz Alberto Garcia, controlador da telefônica CTBC, um dos homens mais ricos do país; Boris Tabacof, da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), e Abram Szajman, da Federação do Comércio do Estado de São Paulo; e os presidentes Marcos Magalhães, da Philips, Rony Lyrio, do Grupo Sul América, e Silvano Valentino, da Anfavea. Na turma dos economistas, participaram Daniel Dantas, presidente do Banco Opportunity; os deputados Delfim Netto (PPB-SP) e Roberto Campos (PPB-RJ); os ex-ministros João Paulo dos Reis Velloso e Mailson da Nóbrega; o esquerdista Paul Singer e o ortodoxo Affonso Celso Pastore, ambos da Universidade de São Paulo. Pastore prevê uma taxa de crescimento da ordem de 3% em 1996 e uma redução do desemprego. Se há recessão, ela é setorial (como nas áreas têxtil e de confecções), diz o economista, um dos mais requisitados para debater o Real. O desafio do governo, para ele, é resolver uma grave inconsistência do Real: a combinação de uma política monetária restritiva (juros altos e controle da moeda em circulação) com ajuste fiscal nenhum. "Se isso não for resolvido, o sonho de crescermos 6% do PIB neste ano vai desaparecer da nossa frente", diz Pastore. Colaboraram a Reportagem Local e as sucursais de Brasília e do Rio de Janeiro Texto Anterior: Desindustrialização escancarada Próximo Texto: Inflação estável traz otimismo Índice |
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