São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Acordo entre empresas é criticado

BA e AA ficariam com monopólio

IGOR GIELOW
DE LONDRES

O mercado aeronáutico mundial, que gera lucros de cerca de US$ 200 bilhões e transporta mais de 1 bilhão de passageiros anualmente, vive seu momento mais crucial, com a discussão do acordo entre as gigantes British Airways (Reino Unido) e American Airlines (Estados Unidos).
O nó da questão é o chamado acordo de "open sky", que falta entre Estados Unidos e Reino Unido para dar o pontapé inicial na superparceria, que vai unir operacionalmente um total de US$ 1,3 bilhão em lucros das duas companhias aéreas.
Literalmente significando "céus abertos", o acordo prevê, em suma, a derrubada das barreiras específicas de cada país em relação ao outro, no tocante à operação de linhas aéreas.
Hoje, há rotas dentro dos Estados Unidos e Reino Unido destinadas apenas a empresas dos próprios países.
O uso do aeroporto de Heathrow, em Londres, o maior do mundo em passageiros internacionais (51 milhões no ano passado), é hoje restrito.
Apenas a liberdade total garante a operacionalidade do acordo de fusão, que prevê conexões coordenadas entre as duas linhas aéreas e padrão de serviços unificado.
Soberania
Mas o "open sky" esbarra em uma questão vital: o espaço aéreo é, e não vai deixar de ser, considerado um domínio da chamada soberania nacional.
No caso dos Estados Unidos, eles só liberaram o acordo com a Alemanha em maio devido à reciprocidade total germânica.
O problema dessa soberania é que ela é usada como desculpa, por exemplo, na França e na Itália, para proteger empresas estatais mal financeiramente, como Air France e Alitalia.
A alemã Lufthansa, uma empresa pública, está para ser privatizada e vive uma situação à parte.
No caso britânico, há algumas dificuldades. Durante anos, a BA (sigla pela qual a British Airways é conhecida) foi estatal. Tinha privilégios de rotas e até hoje ocupa 40% do espaço físico de Heathrow.
Privatizada sob o governo de Margaret Thatcher, aumentou seu lucro -mas manteve os privilégios. Hoje, só a Virgin Atlantic, Delta e American também podem usar Heathrow como base para rotas transatlânticas.
Os EUA querem liberdade total de ação em Heathrow, o que devem até conseguir.
Concorrência
Outro problema é a chiadeira da concorrência. Donas de 60% do tráfego aéreo entre o Reino Unido e os Estados Unidos, o chamado mercado do Atlântico Norte, American e British são acusadas de promover um monopólio privado.
Singapore Airlines (Cingapura) e as norte-americanas TWA, Continental e United já reclamaram.
Mas a principal afetada é a novata britânica Virgin Atlantic.
Em dois anos, ela dominou 13,2% do mercado do Atlântico Norte, com serviços diferenciados em suas aeronaves. E sabe que irá perder terreno se o acordo sair.
"Porém, todos sabem que os acordos são uma inevitabilidade", diz Peter Will, consultor de mercado aeronáutico em Londres.
A campeã de associações é a francesa Air France, que mantém 31 parcerias.
Entre as principais parcerias hoje no mundo estão a da Northwest (Estados Unidos) e KLM (Holanda), que passou por um acordo de "open sky"; a da Delta (a maior do mundo, dos EUA) com a suíça Swissair; e a da alemã Lufthansa com a norte-americana United -que, em suas conexões secundárias, inclui a brasileira Varig.

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