São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Juninho foi a redenção do velho Lobo Zagallo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Seria verdadeira heresia mexer com Juninho nesse time olímpico, não? Ainda mais seguindo o curso do papo que circulou por aí nos últimos dias, que desemboca na sua substituição pelo médio defensivo Zé Elias.
Nesse caso, estaria caindo a máscara de Zagallo: no lugar do largo e juvenil sorriso que ostenta o velho treinador, veríamos novamente a face torturada e taciturna do jovem Zagallo, cujos cabelos embranqueceram da noite para o dia, em 70, e que teve de lutar contra a fama de retranqueiro durante anos. Até que Juninho cruzasse seu caminho.
Sim, porque Juninho foi a chave de ouro que abriu as portas da felicidade ao velho Lobo dos campos: com seus dribles desmoralizantes, suas investidas retas em direção à área inimiga e seu ar de moleque irreverente, embora guerreiro, Juninho foi o diferencial entre a cinzenta seleção campeã do mundo de Parreira e vivaz e álacre equipe de Zagallo.
Se querem saber, Juninho foi a redenção de Zagallo. Por isso, o técnico, diante da zoada sobre a substituição do seu número 1, saltou na frente e soltou logo um êpa! paralisador: ninguém mexe no menino.
Na verdade, não há como alguém investir sobre Juninho: caráter impecável, profissional sério, menino talentoso, que dizer de Juninho, meu Deus?
Comparemos o nosso querido Juninho com, por exemplo, Giovanni, o número 1 de qualquer time que integre. Giovanni nem de longe tem a velocidade de Juninho. Mas, em se tratando de refinamento técnico, equivalem-se. Contudo, Giovanni, embora um meia, um preparador de jogadas, um armador, como queiram, é também um goleador.
Lembro-me que no falecido programa "Na Linha do Gol", da TV Gazeta, reuni Zico e Juninho, o mais recente passado e o presente da camisa 10 da seleção, ou o último ilustre número 1 e seu digno sucessor. E a única -e obsessiva- questão entre ambos era saber como fazer de Juninho um artilheiro. Não um Romário, um Túlio, um Ronaldinho ou um Luizão. Muito menos, um Zico. Mas um meia, que, por ofício e circunstâncias, haverá de estar na boca do gol a todo momento.
Zico passou-lhe -ou tentou passar- todas as dicas, as mumunhas, os toques certos na hora da finalização. Esperei o resultado, em vão.
É psicológico, dirá o Coalhada. Pode ser, mas no sentido em que certos dons são a sintonia fina, imperceptível, de uma soma incrível de reflexos, idéias e gestos que compõem a ação decisiva de um sujeito diante de tais e tais situações. Da mesma forma que Juninho se livra, sem pensar, de um adversário, tece um lençol, descobre o atalho em direção à área inimiga, parece ser incapaz de não pensar na hora do chute fatal, a não ser em bola parada, jogada na qual é mestre.
Quando pensa, dança.
Por isso, numa competição de tiro curto como os Jogos Olímpicos, não é nenhuma heresia levantar-se a hipótese de Rivaldo ocupar o lugar de Juninho, com a entrada de Zé Elias no meio-campo.
Evitamos os contragolpes fatais, aumentamos nosso poder de fogo na frente e Zagallo poderá continuar sorrindo como um menino.

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