São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Cientistas estudam papel de micorrizos

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Micorrizos são fungos (cogumelos) cujos filamentos (micélios) se associam às raízes da maioria das plantas verdes e formam redes ou véus.
Em torno de suas funções surgiram várias interpretações, a mais comum das quais é a da simbiose (associação de dois seres vivos de espécies diferentes, de ordinário vegetais, que lhes traz proveitos recíprocos).
Assim, os botânicos já assinalaram movimento de açúcares das raízes para os filamentos dos micorrizos. Estes, por sua vez, ajudariam as raízes a absorver matérias minerais do solo, especialmente fósforo.
Alguns autores, entretanto, salientam que nos EUA e na Europa, onde os solos costumam ser naturalmente ricos de fósforo, não precisando as plantas da ajuda dos micorrizos, estes são abundantes, o que seria contrário à lógica.
Contra a idéia da simbiose manifesta-se Alastair Fitter, da Universidade de York, na Inglaterra. Ele suspeita que o papel principal dos micorrizos consiste em defender as plantas verdes contra o ataque de fungos patogênicos.
Para verificar essa hipótese plantaram plantinhas de uma gramínea, Volpia ciliata, em condições estéreis e, depois de crescidas, as transferiram para outro local, em solo arenoso.
Inocularam algumas das plantinhas com glomus, cogumelo micorrizo, outras com o fungo patogênico fusarium, outras com ambos os fungos e, finalmente, deixaram um lote de controle sem nenhuma inoculação.
Após 62 a 90 dias, as plantas inoculadas com ambos os fungos, glomus e fusarium, mostraram sistema radicular mais desenvolvido e sadio do que as inoculadas só com o fungo patogênico fusarium.
As plantas inoculadas só com o glomus, cogumelo micorrizo, revelaram maior tendência do que as demais a sucumbir aos fungos patogênicos nativos do solo em que plantadas ("Journal of Ecology", 83, 991).
Feitas em estufa, experiências semelhantes deram resultados iguais.
Informam Clare Putnam e Peter Aldhous em "New Scientist" que Richard Little e Anwar Maun investigaram as relações entre o feno das areias ("marram") e os micorrizos quando infestados por pequeninos nematódeos (vermes) que lhes atacam as raízes. Acreditavam alguns que o crescimento do "feno" para cima ocorresse como fuga à ação dos vermes. Experiências, porém, revelaram que não é a areia que se acumula sobre o feno que impede a ação dos vermes, pois eles são capazes de subir até a parte emersa do feno. Os micorrizos, sim, impedem a ação dos nematódeos ("Journal of Ecology", 84, 1).

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