São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996 |
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Dieta 'natural' em excesso pode reduzir crescimento
VANESSA DE SÁ
Pesquisadores do departamento de alimentos e nutrição experimental da USP descobriram que comer muita fibra faz mal se elas forem ingeridas durante o período de crescimento. Os cientistas simularam em ratos a dieta da população brasileira de baixa renda: uma baixa quantidade de proteínas (8,5%) e uma grande quantidade de fibras vegetais. Os ratos, recém-desmamados, foram alimentados com uma mistura de três partes de arroz com uma parte de feijão. Apesar de o feijão conter cerca de 20% de proteína e o arroz, cerca de 7%, a mistura de três partes de arroz e uma de feijão resulta num teor de proteína igual a 8,5% "Isso é o que é consumido por boa parte da população brasileira; 69% do total de proteínas consumida pelos brasileiros é de origem vegetal", disse Julio Tirapegui, um dos autores do estudo. Mais fibras Os cientistas acrescentaram à dieta outros tipos de fibras. Numa delas foi acrescentada 7,5% de fibras. Na outra, uma quantidade maior: 15%. Ambas as quantidades são maiores do que as que o animal precisa. Os animais também foram alimentados com uma quantidade de proteína extraída do leite (caseína) igual a 8,5%. "Usamos esse grupo para uma comparação com a dieta de arroz e feijão. Isso porque, nesse caso, a proteína estava numa forma pura", disse o cientista. Segundo Tirapegui, os dois grupos que foram alimentados com uma dieta pobre em proteínas (uma dieta ideal precisa ter cerca de 17% de proteínas), tiveram problemas de crescimento. O grupo que recebeu mais fibras cresceu ainda menos. "Esse efeito foi causado pelas fibras, já que ambos os grupos receberam uma quantidade inadequada de proteínas". "O grupo que comeu arroz-feijão mais 7,5% da fibra celulose engordou 129 g e o comprimento do osso da perna foi de 32,64 mm". Segundo ele, ao dobrar a quantidade de fibra, o animal engordou menos (113 g) e o osso também cresceu menos, 30,19 mm. Proteína ideal O mais surpreendente é que mesmo os grupos que receberam uma quantidade adequada de proteínas tiveram problemas de crescimento quando foram alimentados com excesso de fibras. "Ao dobrar a quantidade de fibras, notamos que a quantidade de um hormônio ligado ao crescimento, a somatomedina, caiu mais da metade (de 1.023 ng/ml para 332 ng/ml), fazendo com que os ratos crescessem menos. O tamanho do osso passou de 33,89 mm para 32,09 mm". Os pesquisadores usaram dois tipos de fibras: a pectina e a celulose. Os resultados mostraram que, quando foi usada a pectina, independentemente da quantidade de proteína na dieta (ideal ou não), os animais cresceram menos. E também menos do que quando alimentados com celulose. "Os efeitos das fibras são diferentes. A rigor, comemos a mistura das duas fibras", disse. A celulose e a pectina são os principais tipos de fibras dos alimentos. A pectina, encontrada nas frutas, cenouras e vegetais, está mais relacionada com a redução dos níveis de colesterol, com o trânsito rápido dos alimentos pelo tubo digestivo e com a baixa glicemia. Já a celulose forma ajuda a formar a parede das células vegetais. "Ninguém sabe por que a pectina prejudica mais o crescimento do que a celulose". Embora ainda não se saiba qual a relação entre o excesso de fibras e a redução do hormônio ligado ao crescimento, os pesquisadores sugerem que grandes quantidades de fibras na dieta levam ao aumento das substâncias que inibem a ação da somatomedina no sangue, reduzindo o crescimento dos ossos e dos músculos. Texto Anterior: Pobres comem pouco e mal Próximo Texto: Arroz integral prejudica nutrição Índice |
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