São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Igreja dos EUA discute união homossexual

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Com a possibilidade dos casamentos civis homossexuais serem aprovados no Havaí no final do ano, as discussões entre as uniões de casais do mesmo sexo se tornou uma grande polêmica nos EUA.
Muitos Estados estão tentando colocar em suas leis uma proibição explícita a esses casamentos, como uma reação às possíveis consequências da aprovação.
Além do debate na legislação e na política, outro setor da sociedade foi colocado em xeque sobre os casamentos homossexuais: a igreja.
Seja entre católicos, judeus ou protestantes, o assunto encontra defensores e críticos ferozes. De ambos os lados, eles se aliam na interpretação da Bíblia para explicar suas convicções.
Várias facções, inclusive, já realizam uniões de casais homossexuais muito similares aos casamentos: com música, igreja, troca de alianças e tudo mais. A diferença é que elas se chamam "bênção" ou "cerimônia de união".
Casal de lésbicas
Na próxima semana, em Albany (Nova York), o reverendo Edward Kemp, 55, vai realizar pela primeira vez uma dessas cerimônias, unindo um casal de lésbicas.
Ele é pastor da Igreja Unida de Cristo, congregação protestante que resolveu, em seus congressos anuais, permitir tais uniões.
"A igreja é a favor das uniões de uma forma geral, mas cabe a cada congregação aceitar ou não."
Kemp diz que sua igreja vê o homossexualismo como uma "orientação". "Acredito que ninguém escolhe ser um homossexual, mas sim descobre que é. Para mim, também existe um componente genético nessa orientação."
O reverendo, que se diz heterossexual, afirmou estar "muito orgulhoso" por começar a fazer os "casamentos homossexuais".
"Pela Bíblia, o casamento e o sexo existem para a procriação e também como uma expressão de amor. É nisso que me baseio. Nós não interpretamos fragmentos ou frases da Bíblia, mas em sua mensagem como um todo, que é de amor e inclusão", afirmou.
Parte da igreja protestante não vê com bons olhos esses procedimentos. Basicamente os evangélicos, os pentecostais e os fundamentalistas são opositores ferrenhos e acreditam que ser homossexual é estar contra as leis de Deus.
Os escritos do apóstolo Paulo são um dos principais argumentos, onde afirmam existir condenação explícita ao homossexualismo.
Mesmo entre os grupos em que a maioria é contra as uniões, há dissidentes. Os mórmons, cujos líderes são opositores inclusive aos casamentos civis, têm de enfrentar um grupo organizado, o Afirmação: Gays e Lésbicas Mórmons.
Na última semana, o grupo participou da parada gay, que ocorre anualmente em Nova York. Muito próximo deles, estavam outros representantes das divergências religiosas: a Conferência de Lésbicas Católicas, que tem ex-freiras entre seus membros.
Rabinos reformistas
No judaísmo, uma facção que reúne reformistas já aceita que gays e lésbicas se tornem rabinos e se pronunciou, em março, a favor dos casamentos civis.
O grupo ainda não se posicionou quanto aos casamentos religiosos, mas muitos também já realizam as cerimônias de união.
Um dos principais exemplos é a sinagoga Beth Simchat Torah, que desde sua abertura, em 1973, apóia a participação de homossexuais.
Situada no Chelsea, o principal reduto gay de Nova York, a sinagoga chega a ter celebrações especiais para gays e é um dos membros fundadores do Congresso Mundial de Organizações Judaicas para Gays e Lésbicas.

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