São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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Reforma diminui regras, mas aumenta exceções do alemão

The Independent
de Londres

IMRE KARACS
EM BONN

Jogue fora seus livros de alemão. Desde a terça-feira, algumas das normas do idioma de Goethe e Klinsmann deixaram de valer. Das 212 regras que regem a ortografia alemã, por exemplo, só restam 112.
Essa é a boa nova. A má notícia é que, embora o número de regras tenha sido reduzido, o número de exceções às regras subiu proporcionalmente, e a gramática trabalhosa que já levou gerações de estudantes ao desespero sobreviveu.
Desde 1901, os melhores cérebros do mundo de língua alemã vêm podando o "Hochdeutsch" (alemão culto), numa tentativa de impor ordem a sua Babel de vernáculos e dialetos. Agora, representantes dos governos da Áustria, Suíça, Alemanha e Liechtenstein assinaram um acordo de implementação das novas regras.
Como seria de se supor, o zelo revolucionário acabou reduzido a um conjunto de concessões pouco significativas. Os suíços já haviam abolido o "" porque não conseguiram encontrar lugar para ele em seus teclados multilíngues.
Agora, alemães e austríacos concordaram com a mudança, substituindo o legado gótico por "ss" -exceto em algumas palavras.
Muitas das vírgulas que tanto atrapalhavam as sentenças também foram abolidas, especialmente as que precediam "e" e "ou".
Na busca de pureza linguística, os acadêmicos também descartaram vários estrangeirismos, enquanto outros foram germanizados com o acréscimo de uma ou duas letras.
Algumas propostas mais radicais foram rejeitadas. Os substantivos continuam começando com letra maiúscula, o verbo nas orações subordinadas vai permanecer no final, e as regras de gênero sofreram só ligeiras modificações. Cães continuam masculinos, gatos, femininos, e garotas, de gênero neutro.
As reformas tampouco solucionaram a velha tentativa de se chegar a uma uniformidade linguística.
Quando a Áustria ingressou na União Européia, veio acompanhada de 23 "austricismos".
Mas o dialeto austríaco pelo menos se assemelha ao alemão padronizado. Não é o caso da Suíça. Seus filmes são legendados na Alemanha porque os alemães não entendem os diálogos. E, só na Alemanha, a humilde batata, por exemplo, tem 15 versões diferentes.
Mas, até agora, todos escreviam da mesma maneira. As novas regras serão ensinadas nas escolas a partir deste ano, e sua introdução oficial se dará em 1998. Depois, haverá sete anos de caos, com os dois sistemas convivendo. Só em 2005, os burocratas correrão o risco de perder os empregos se colocarem vírgulas demais nos memorandos.

Tradução de Clara Allain

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