São Paulo, domingo, 7 de julho de 1996
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DEMI MOORE exclusiva

ELAINE GUERINI

"Não faço nada para aparecer"
"Minhas três filhas estão acostumadas a me ver nua. Nós brincamos sem roupa pela casa"
TEXTO ELAINE GUERINI enviada especial a Nova York
FOTO DAVE STEWART
Demi Moore chega ao hotel Essex House de Nova York com a blusa branca estrategicamente desabotoada. Apenas o suficiente para exibir as curvas dos seios bronzeados e desnortear os hóspedes e curiosos que esperam a estrela de "Striptease" no saguão.
A atriz norte-americana trocou os longos cabelos castanhos pelo visual inspirado em Sinéad O'Connor. Ela esconde a cabeça raspada com lenço branco e usa o mínimo de maquiagem -o que realça a cor verde-cinza dos seus olhos.
Mais baixa do que aparenta nas telas (com pouco mais de 1,60 m), Moore veste calça preta justa para destacar suas formas esculturais -agora, avantajadas graças a intensas sessões de musculação.
Apressada, ela se dirige a um dos quartos do hotel e pede à secretária que providencie algo para comer. Em poucos minutos, a atriz está pronta para receber a Revista da Folha para a entrevista.
Moore se acomoda animadamente em um dos sofás do quarto -uma suíte de luxo no 33.o andar do hotel cinco estrelas, situado em Manhattan. Logo de cara, se mostra simpática, desembaraçada e de personalidade forte.
Basta a primeira pergunta para a atriz começar a falar pelos cotovelos e deixar claro sua missão nessa entrevista: defender "Striptease". O filme -com estréia prevista no Brasil para 27 de setembro- foi bombardeado pela crítica dos EUA.
"Os americanos ainda são muito puritanos. Têm vergonha do próprio corpo e do que o corpo significa", diz a atriz de 33 anos, que se tornou a mulher mais bem paga de Hollywood ao receber US$ 12,5 milhões para interpretar uma "stripper". Nas cenas mais quentes, ela fica só de fio-dental.
Nudez
Com a característica voz rouca e sensual, Moore parece se empolgar quando o tema é nudez. "Na minha casa, eu e o meu marido (o ator Bruce Willis) encorajamos nossas filhas a perceberem que o corpo é algo natural, uma coisa bonita de se ver."
A filha mais velha do casal, Rummer, de 7 anos, contracena com Moore no filme. "Ela concorreu como todas as outras meninas que queriam o papel", destaca. "Foi espontânea e me surpreendeu muito", comenta, sem se preocupar com o lugar-comum da corujice.
Rummer acompanhou as filmagens das cenas em que Moore tira a roupa. "Ela ficou orgulhosa de mim. Como qualquer criança, ficava tentando imitar", lembra. "As minhas três filhas estão acostumadas a me ver nua. Elas tomam banho comigo e nós brincamos sem roupa pela casa", revela, com ar divertido.
A atriz só faz uma pausa quando o garçom traz uma garrafa de chá e uma bandeja com canapés. Sem cerimônia, passa a se servir. "Não entendo por que os americanos tendem a pensar que existe alguma coisa de errada com o corpo. Talvez seja por isso que problemas como obesidade, anorexia e bulimia sejam tão frequentes no país".
Ela chega a citar o Brasil enquanto prossegue no discurso sobre a "caretice" americana. Moore rodou no país um de seus primeiros filmes, "Feitiço no Rio" (84). "Os brasileiros, assim como alguns povos da Europa, são mais abertos e liberais. Essa mentalidade ajuda a mulher a se sentir bem com o próprio corpo", afirma.
Ela desconversa quando o assunto abordado é a exploração da nudez como jogada de marketing. A atriz fez duas aparições ousadas na capa da revista "Vanity Fair".
Na primeira vez, em 91, posou nua no sétimo mês de gravidez para a fotógrafa Annie Leibovitz. No ano seguinte, apareceu novamente sem roupa, apenas com um smoking pintado no corpo.
"Não tiro a roupa com a intenção de aparecer", diz, com ar provocante. "Não faria uma coisa para me arrepender ou envergonhar a minha família. As fotos em que eu apareço grávida, por exemplo, eu não fiz para a revista. Fiz para mim e eles é que acabaram se interessando e me pediram autorização para publicá-las."
US$ 12,5 milhões
Em "Striptease", a nudez de Moore fica mais uma vez em evidência. "É natural que a publicidade acentue esse lado para chamar a atenção", justifica a atriz, enquanto degusta um canapé de salmão. Mas será que o cachê teria sido de US$ 12,5 milhões se ela não tivesse tirado a roupa?
Moore sorri e responde que sim. E acrescenta: "Quando fizemos o acordo, os produtores me disseram que eu precisaria dançar e ficar de topless. A decisão de fazer o striptease e usar apenas um tapa-sexo foi minha. Resolvi vivenciar a situação para poder mergulhar de cabeça na personagem".
A atriz faz questão de frisar que "Striptease" oferece mais do que Demi Moore tirando a roupa. "Reconheço que parte do público pode ir ao cinema só por isso", afirma. "Mas o roteiro mistura comédia, assassinato e corrupção, além de destacar a bela relação entre mãe e filha", completa.
No filme, dirigido por Andrew Bergman (de "Lua-de-Mel a Três" e "Atraídos pelo Destino"), a atriz interpreta Erin Grant, uma mulher separada que perde a guarda da filha para o ex-marido vigarista e acaba ganhando a vida como "stripper".
"Depois de pesquisar muito, descobri que boa parte das mulheres que fazem isso na vida real fogem do estereótipo", conta. "Não são prostitutas, alcoólatras ou drogadas. São mulheres inteligentes e conscientes da escolha que fizeram. Como a minha personagem, são mães solteiras tentando sustentar os filhos."
Na pele da "stripper", Moore filma as cenas mais quentes de sua carreira. A atriz já fez papéis sexies -é só lembrar de "Assédio Sexual" (94), em que ela vive a executiva que tenta seduzir Michael Douglas, e de "Proposta Indecente" (93), quando vai para a cama com Robert Redford por US$ 1 milhão.
A diferença é que, em "Striptease", Moore usa o corpo para provocar uma resposta do espectador. "É a primeira vez que faço isso. Reconheço que no começo das filmagens fiquei um pouco insegura", diz. "A coreografia é que ajudou a me soltar."
Ao todo, a atriz tem três cenas mais ousadas no filme. Duas delas se passam no palco do clube noturno Eager Beaver (ambientado na Flórida). Nas duas situações, Moore aparece tirando a roupa diante de uma platéia de babões -no final de cada performance, alguns deles não resistem em pendurar dólares em seu fio-dental.
A terceira cena quente de "Striptease" acontece quando a atriz está sozinha em casa e resolve ensaiar um número enrolada apenas em uma toalha, logo depois de tomar banho. Antes de Moore colocar a calcinha, a câmera dá um close em seu bumbum.
Fisicamente, ela está imbatível. Seu corpo ganhou massa muscular, sem perder a feminilidade. Outra mudança é que os seios parecem estar um pouco maiores -o que, segundo a imprensa americana, seria resultado de mais uma cirurgia plástica, entre tantas que Moore já fez.
"Não existe mágica. Um corpo assim não se conquista da noite para o dia. É preciso malhar muito", conta, sem dar maiores detalhes sobre a sua rotina de exercícios.
Ela sempre evita discutir o assunto com jornalistas. "Não faço nada que os outros não façam para ficar em forma. Minha filosofia é estar sempre com um corpo saudável."
Críticas
Ainda sobre a aparência, Moore desmente uma suposta obsessão pela forma física. "A imprensa critica o que eles pensam que eu sou, aquilo que eles acham que eu virei ou aquilo que eles pensam que eu penso. Mas não sou eu. As pessoas que realmente me conhecem e gostam de mim são as únicas que importam."
A atriz mudou radicalmente o visual ao raspar a cabeça. Mas continua bonita -os traços suaves de seu rosto ficam ainda mais realçados sem os cabelos compridos como moldura. "Foi muito excitante passar por essa transformação diante das câmeras", lembra.
Moore ganhou a careca durante as filmagens de "G.I. Jane", rodado atualmente na Flórida pelo diretor Ridley Scott (de "Thelma & Louise" e "Blade Runner - O Caçador de Andróides").
Em seu novo trabalho, ela encarna uma recruta do corpo de fuzileiros navais dos EUA. Antes de entrar em combate, raspa a cabeça para mostrar que o seu compromisso com o treinamento é igual ao dos homens.
"É uma personagem completamente diferente de tudo o que já fiz em minha carreira. Desta vez, vou adotar uma postura masculina. Estou trabalhando ainda mais os meus músculos", diz, fazendo pose de halterofilista.
Convencer como atriz
Depois de provar que é dona de um dos corpos mais bonitos do cinema, o próximo passo é convencer como atriz. Até hoje, o melhor filme de seu currículo é "Questão de Honra" (92), em que contracena com os atores Jack Nicholson e Tom Cruise.
O drama açucarado "Ghost - Do Outro Lado da Vida" (90), em que ela faz a viúva de Patrick Swayze, só serviu mesmo de passaporte para o estrelato.
"Sempre tive muita paixão pelo que faço", ressalta. "O problema é que nunca se sabe quando um filme vai funcionar. Não importa quem esteja envolvido. Você pode reunir o que há de melhor e ainda assim tudo pode dar errado."
O filme pode não ser dos melhores, mas, quando se tem Demi Moore no elenco, a bilheteria já está quase garantida. Depois de atuar com Nicholson, Redford e Cruise, ela não precisa mais dividir a atenção do público com outros astros na tela.
Elevando o cachê
"A melhor parte de todo esse sucesso é saber que eu consegui elevar o patamar de cachê feminino em Hollywood", afirma, enquanto esvazia sua garrafa de chá. "Eu mesmo não preciso de dinheiro. Não trabalho pensando em quanto vou ganhar."
Moore olha pela janela do quarto, com vista panorâmica para o Central Park, e continua: "Vivo muito bem com o meu marido e minhas filhas. Tenho tudo o que sempre quis", diz, segundos antes de ser interrompida por sua secretária que entra apressadamente no quarto para encerrar a entrevista.
"Sinto muito, mas o tempo acabou. Mrs. Moore ainda tem muito o que fazer", afirma a secretária, mantendo a tradição de que agente de astro precisa estar sempre mal-humorado. Ela não hesita em abrir a porta e mostrar a saída. Só sobra tempo para o tradicional "obrigada".

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