São Paulo, terça-feira, 9 de julho de 1996
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Brasil é campeão de desigualdade social

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A distribuição de renda no Brasil melhorou entre os anos de 1989 e 1993, segundo dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ainda assim, o país é -pelo segundo ano consecutivo- o campeão em desigualdade social do planeta.
A conclusão pode ser feita a partir do Relatório de Desenvolvimento Mundial de 1996 elaborado pelo Bird (Banco Mundial).
O relatório -divulgado no fim de junho- compara a distribuição de renda em 65 países.
Para chegar à classificação final dos países, é utilizado um coeficiente chamado de Gini (índice que calcula a porcentagem da renda nacional que cada extrato da sociedade detém).
O documento do Bird de 1996 utilizou dados sobre distribuição de renda no Brasil de 1989 fornecidos pelo IBGE.
Mesmo colocando os dados mais recentes, de 1993, o país continua sendo o campeão de desigualdade.
Depois do Brasil, os países com pior distribuição de renda são Guatemala, África do Sul, Quênia e Zimbábue.
Metodologia
O coeficiente de Gini varia de zero a um. Quanto mais perto de um, mais desigual é o país. São considerados países com boa distribuição de renda aqueles cujo índice esteja abaixo de 0,45.
Em 1989, o Brasil havia obtido coeficiente de Gini de 0,63. Em 1993, o índice do Brasil caiu para 0,60.
Apesar da melhora de 0,03 pontos, o país continua sendo o único pesquisado pelo Bird a ter coeficiente de Gini superior a 0,59.
Os países com distribuição de renda mais igualitária, segundo o Bird, são os que saíram de regime comunista há pouco tempo.
Entre os 65 países analisados pelo Banco Mundial, o que obteve menor coeficiente de Gini foi a Eslováquia (0,19). Em seguida, vêm Belarus (0,21) e Romênia (0,25).
Dados repetidos
No relatório de 1996, o Bird repetiu os dados do Brasil utilizados no relatório de 1995 e que traziam informações sobre a situação do país em 1989.
Os dados sobre distribuição de renda no Brasil que o Bird utiliza em seus relatórios são compilados do Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE.
A assessoria do Banco Mundial em Brasília não sabia explicar por que foram utilizados dados velhos no relatório deste ano se o IBGE já tinha calculado o coeficiente de Gini do Brasil para o ano de 1993.
O relatório é elaborado anualmente pelo escritório sede do Bird, que fica em Washington (EUA).
Até ontem à noite, a representação do Bird no Brasil ainda não havia recebido resposta da sede sobre o motivo de os dados utilizados para a classificação do Brasil estarem desatualizados.
Pobres estão menos
pobres Além do coeficiente de Gini, há outros indicadores que comprovam ter havido uma melhora na distribuição de renda no Brasil nos últimos anos.
Pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) constatou que os 50% mais pobres da população brasileira detinham 11,6% da renda nacional no ano passado.
Em 1994, os mesmos 50% detinham 10,4% da renda nacional. Apesar da melhora, a situação de 1995 é pior do que em 1991, quando os 50% mais pobres ficaram com 13,6% da renda nacional.
Ainda segundo o Ipea, os 20% mais ricos abocanharam 63,3% da renda nacional no ano passado.
Em 1994, a mesma parcela da população havia ficado com 65,7% da renda.

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