São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 1996 |
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Globalização quebra ícones de qualidade
FREDERICO VASCONCELOS
A maioria das empresas-modelo dos anos 80 não resistiu incólume à forte concorrência, juros elevados e moeda sobrevalorizada. Com a globalização, algumas indústrias procuram parceiros externos para não sucumbir. Em 1988, a Folha selecionou exemplos de competência empresarial, numa série de reportagens de Jorge Caldeira (autor do livro "Mauá, Empresário do Império"). Hoje, a avaliação de oito dessas ilhas põe em xeque aquela sensação de eficiência. É o que se deduz da análise de vários consultores sobre os resultados da Cofap, Metal Leve, Estrela, Confab, Romi, São Paulo Alpargatas, Duratex e Albarus. Metade desse arquipélago encerrou 1995 com prejuízo (Estrela, Confab, Cofap e Metal Leve). Lições da crise Em todas as ilhas houve um ajuste difícil e doloroso. Milhares de pessoas foram dispensadas, muitas unidades foram fechadas, e a reengenharia em algumas dessas empresas tem sido questionada. "A crise é dolorida, mas tem vantagens. As grandes empresas emergem das grandes crises. São grandes, mas a excelência não está no tamanho", diz o professor Alberto Borges Matias, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. Diagnóstico da Austin Asis, a partir de série de balanços, indica que o conjunto das ilhas mantinha um bom desempenho em 1989. Em 1995, apenas três conservaram essa avaliação (Duratex, São Paulo Alpargatas e Albarus). Duas foram rebaixadas para o nível razoável (Metal Leve e Romi). Outras duas desceram ainda mais, para o padrão insatisfatório (Cofap e Confab). A Estrela, solitária e a mais afetada, é hoje um exemplo de ilha de deficiência. Em 1989, seis das oito ilhas apresentavam nível de endividamento entre razoável e bom. Em 1995, metade das empresas registrou situação insatisfatória. Antevendo a abertura Há exemplos isolados de eficiência no processo de reorganização, como é o caso da São Paulo Alpargatas. A Duratex e a Albarus mantêm a boa avaliação dos anos 80. "Essas empresas têm gestão profissional", diz hoje Jorge Caldeira. O critério que ele adotou há oito anos para selecionar as ilhas foi identificar "empresas que tinham chance de sobreviver num mercado globalizado" (indústrias de alta tecnologia, que exportavam entre 10% a 30% de sua produção). Embora os conceitos básicos de globalização e reengenharia não fossem comuns à época, ele diz que alguns empresários tinham noção de que a abertura viria. Para Caldeira, as ilhas de estrutura familiar -e aquelas que obtinham bons resultados graças a um mercado autárquico, sem competição- não conseguiram transformar eficiência em crescimento. Em comum, as empresas que superaram o período sem maiores percalços não aguardaram uma política industrial e não dependeram de financiamento subsidiado. "Partiram do princípio de que o governo só podia atrapalhar", diz Matias, da USP. Nos anos 80, a Romi tinha pregado nas paredes a recomendação de "nunca acreditar nos planos do governo". LEIA MAIS sobre o destino das "ilhas de eficiência" na pág. 2-14 Texto Anterior: Para Franco, quarentena é "delírio" Próximo Texto: Alpargatas foi bem-sucedida Índice |
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