São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996 |
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Estagnação travestida
DEMIAN FIOCCA Se a realidade confirmar a previsão divulgada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de que, no final do ano, a economia estará crescendo a uma taxa anualizada de 6%, a sensação para os que vivem o presente será de estagnação.O crescimento "anualizado" refere-se ao que ocorreria se a taxa de crescimento de um dado período do ano fosse mantida por 12 meses; não descreve o crescimento total de um ano em relação a outro. Conforme o raciocínio exposto pelo presidente, como no primeiro semestre o crescimento esteve próximo de zero, no segundo semestre a taxa teria de ser bem maior, de modo a atingir uma média razoável. A afirmação não significa, portanto, que a economia crescerá 6% neste ano, mas apenas que o PIB do quarto trimestre de 96 será 6% maior que o do quarto trimestre de 95. Ora, o ano passado começou com a economia aquecida, mas terminou em ambiente recessivo. Desse modo, o aumento da taxa de crescimento no final deste ano deve-se à queda da base de cálculo e não a uma retomada econômica nos próximos seis meses. Segundo estimativa utilizada na última Carta de Conjuntura do Ipea, o PIB de março a junho deste ano já foi 7% maior que o do recessivo final de 95. Assim, a recuperação que teria de ocorrer já ocorreu. Daqui até o fim do ano, a questão seria apenas manter o atual nível de atividade. Como se vê no gráfico acima, o PIB vinha caindo em termos absolutos até o primeiro trimestre de 96 e teria se recuperado no segundo trimestre. No terceiro e quarto trimestres, o PIB teria magnitude similar ou até um pouco menor que a do segundo trimestre deste ano, apesar de ser maior que o dos mesmos períodos do ano passado. Se confirmadas essas previsões, a economia crescerá, no total, apenas 2,3% em 96. É uma taxa baixa para o Brasil, porém próxima das expectativas de vários consultores e analistas privados. As previsões do governo também já não são unânimes em 4% a 5% de crescimento no ano, mas tendem para números inferiores a esses. Em entrevista à Folha publicada há dois domingos, o ministro Antonio Kandir endossou a avaliação do presidente de que o nível de produção do fim de 96, comparado ao do fim de 95, deve ter um crescimento próximo de 6%. E concluiu que "isso significa que o crescimento do ano de 96, comparado ao de 95, deve ficar em torno de 3%". Assim, excluídas as ilusões estatísticas, existem apenas duas maneiras de o segundo semestre corresponder à atual expectativa de melhora: ou (1) o PIB do segundo trimestre foi menor que o estimado pelo Ipea (o que produziria uma sensação de avanço à custa de crescimento mais baixo no primeiro semestre e, portanto, na média do ano) ou (2) o governo impulsionará com maior vigor a economia, ultrapassando a previsão do presidente para o último trimestre. Em favor da manutenção de um desempenho mais contido está a situação ainda delicada da balança comercial. Pesando em sentido contrário, encontram-se as preocupações com o desemprego na proximidade das eleições municipais. Não é improvável que os dois fatores se contrabalancem e o resultado final seja mesmo próximo das previsões do Ipea e do presidente. O crescimento total em 96 seria, então, inferior a 3%. Nesse caso, ainda que a sonoridade do crescimento "de 6% anualizado" agrade ao governo, será natural que muitos não percebam, nem em produção, nem em emprego, a recuperação anunciada para o segundo semestre. As estatísticas se referem ao final de 95 e equivalem apenas à estagnação do nível atual de atividade. Texto Anterior: A insensatez da CPMF Próximo Texto: Distribuição causa polêmica no Chile Índice |
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