São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996 |
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Vai acabar em pastel
CLÓVIS ROSSI São Paulo - Editorial de ontem desta Folha apontava a nítida existência de um "feel bad factor" entre o empresariado industrial paulista, com base em dados de uma pesquisa promovida pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).Ou, em português, o empresariado não se sente lá muito bem na presente conjuntura econômica, por uma série de razões já apontadas no próprio editorial e também neste espaço, na véspera. Cabe agora relatar um outro "feel bad factor" que atinge um público bem mais amplo, quase diria o público brasileiro como um todo. Trata-se da desconfiança em relação à eficácia das autoridades. O pasteleiro da praça Janete Clair, em Indianópolis, zona Sul de São Paulo, animou-se a estender uma enorme faixa diante de seu caminhão/posto de vendas na qual anuncia 500 pastéis grátis quando se descobrir quem matou PC Farias. A promoção tem validade até 31 deste mês. Ou seja, um prazo de 40 dias a contar da data em que os corpos de PC e sua namorada foram encontrados. Só não sei se o pasteleiro ainda preserva um mínimo de expectativa em relação à hipótese de que se descubra o assassino, se é que a versão até agora oficial não está correta, ou se o prazo é apenas para dar lugar a outra faixa. O pasteleiro é criativo e está sempre mudando esse tipo de propaganda. O mais provável é que ele esteja apenas refletindo a desconfiança generalizada, de que a própria mídia dá testemunho quase diário. Jornal algum deixou de tratar o caso PC nas páginas reservadas ao noticiário político. Uma demonstração subliminar de que a mídia não acreditou na versão oficial e intuiu (ou desejou) ao menos algum laivo político na história. Desta vez, pode até ter errado na intuição (ou desejo). Mas a história do país só justifica a desconfiança. Texto Anterior: SIMULACRO Próximo Texto: Outro embuste da CPMF Índice |
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