São Paulo, sexta-feira, 12 de julho de 1996
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Saúde e goiabada

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Louvor e glória ao ministro Jatene, que descolou o seu imposto, deu a volta por cima da fritura a que o condenaram e, até segunda ordem, é o homem do dia, ou melhor, de anteontem. Continuo sem opinião firmada sobre a necessidade de sua nova fonte de renda. Ele paralisava a ação ministerial, da mesma forma que as reformas imobilizam o governo. Agora, aprovado o imposto, veremos o que acontece.
Ou o que não acontece, que talvez seja o mais provável. Declarar o Estado falido é hoje lugar-comum. Do presidente da República ao contínuo de repartição, todos concordam que o Estado faliu e nada se deve esperar dele.
Vamos com calma. A crise do Estado não chega a ser de falência. Um Estado que socorre o sistema bancário, evitando aquilo que ele considera "o pior", não está tão falido assim. Um Estado que manda mais de cem pessoas a Paris para servir de corte e claque para o presidente da República também não está na miséria absoluta.
Na miséria absoluta está começando a entrar a credibilidade do governo. E nesse particular o ministro Jatene, enquanto governo, não se excetua. Teme-se, com toda a razão, que o dinheiro da movimentação dos cheques tenha o destino de outros impostos que formam a renda nacional. Na hora do aperto, é preciso pagar a goiabada servida nos paços do poder e aí a ciranda das verbas é livre, ou melhor, é libertina.
Entre a mulher que vai parir seu filho na pia do hospital e a sobremesa que não pode faltar (sobremesa modesta, de pobre), evidente que a opção será a pior, não porque o Estado esteja falido, mas porque o Estado só tem uma prioridade: continuar Estado para manter o direito oficial à sua humilde goiabada.
Pessoalmente, o ministro Jatene fez o que pôde. Arranjou a grana. Duvida-se, não dele, mas do governo como um todo, na hora de gastá-la.

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