São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Desafios para as pequenas e médias empresas

CARLOS DE FARO PASSOS

Números recentes confirmam a importância das PMEs (pequenas e médias empresas) em nível mundial e sua participação aproximada no emprego nacional. Na Inglaterra, 34%; na Alemanha, 40%; nos EUA, 50%; na França, 51%; no Japão, 67%; em Portugal, 68%; na Espanha, 69%. Além de contribuir para a formação do PIB de seus países, as PMEs também se destacam por ser mais inovadoras do que as grandes empresas.
No Brasil, segundo o Sebrae, existem cerca de 4 milhões desses estabelecimentos, respondendo por 21% do PIB, 42% dos salários e 60% dos empregos.
Com o Plano Real, as PMEs defrontaram-se com uma nova concorrência, que exige mais qualidade dos produtos e pressiona preços. Somem-se a esse fenômeno um enorme aperto creditício e as mais elevadas taxas de juros do mundo. Situação dramática, uma vez que, para muitas das PMEs que conseguiram sobreviver, a única saída está em tornar-se também uma "empresa global".
Para isso, essas empresas têm que contar com recursos como financiamento, questão que, no Brasil, representa problema antigo e sem solução. O governo dispõe de algumas linhas de crédito, via fundos de incentivos regionais, e oferece recursos para capital de giro e outros específicos por meio de bancos ou instituições públicas.
Os bancos privados, todavia, evitam aplicar os seus recursos em créditos nas PMEs, que, em contrapartida, não podem oferecer as garantias adicionais exigidas.
O mercado brasileiro de capitais, com recursos consideráveis das seguradoras e dos fundos de pensão e investimento, permanece inacessível às PMEs.
Cabe apoiar, a propósito, projeto de lei em discussão no Congresso Nacional que propõe a criação de sociedades de garantias solidárias, visando avalizar os créditos das PMEs consorciadas.
Um dos fatores-chave do novo cenário é o movimento de cooperação entre empresas, que vem se acentuando a partir da organização de pólos -geograficamente concentrados e especializados por setores industriais- e redes industriais -ligando produtores e outros agentes econômicos geograficamente dispersos-, como forma de incentivar e maximizar os benefícios da cooperação.
No Brasil atual, observamos um bom desempenho de alguns pólos industriais, como o do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, exemplo importante de um dinâmico núcleo exportador de calçados.
O Projeto Pólo, apoiado por Sebrae e USP, já conta com cerca de 20 pólos no Estado. A idéia também foi adotada pelo governo do Ceará, que destinou um terço de suas compras de bens e serviços às pequenas empresas cearenses.
As chamadas incubadoras constituem pólos muito especiais. O Projeto Incubator, por exemplo, desenvolvido em cooperação com a Unido, presta assistência temporária a empresas industriais nascentes, cedendo infra-estrutura, apoio técnico, administrativo e de serviços.
Outros problemas brasileiros que dizem respeito às PMEs referem-se aos entraves burocráticos, sobretudo na fase inicial do empreendimento, uma vez que essas empresas não dispõem de recursos para advogados e consultores, se necessário.
A importância da tecnologia e da inovação -nos produtos, processos e serviços- cresceu muito com a globalização das PMEs, assim como a qualificação do pessoal. Daí a necessidade de que o Estado se empenhe no apoio a pólos e redes, oferecendo infra-estruturas adequadas ao seu funcionamento.
O novo cenário econômico exige mudanças em toda a organização, no seu meio ambiente e, no caso do crescente teor de serviço, também na criação de novas habilidades, que podem envolver aspectos técnicos, administrativos, humanos e empresariais.
O modelo tradicional, baseado na rígida divisão trabalho gerencial/trabalho operacional e na ultra-segmentação deste, está com os dias contados e pedindo uma profunda reformulação.
As políticas de recursos humanos -privadas e públicas- terão de refletir todas essas transformações, desde a formação, a seleção e o treinamento até os mecanismos para motivação e participação do pessoal. Nem todas as tendências parecem claras, uma vez que até a estabilidade no emprego pode continuar a ser tão importante quanto no passado.
O maior custo da globalização pode estar no desemprego. Seja qual for a parcela de verdade aí contida, os fatos demonstram a impossibilidade de resolver o problema sem um forte crescimento das PMEs brasileiras e de outros países desenvolvidos e em desenvolvimento.

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