São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ronaldinho, 19, tem experiência internacional

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Além das razões expostas à exaustão -físico privilegiado, maior presença no jogo aéreo etc.-, engatilhei aqui mais um item que põe Ronaldinho, 19, à frente de Sávio na corrida pela vaga ao lado de Bebeto: experiência internacional.
Afinal, esteve em uma Copa, ainda que sem jogar, e andou enchendo de gols o já alegre futebol holandês, pelo PSV.
Mas, para cada argumento, Sávio tem uma resposta à altura. Por exemplo: foi o que mais vezes jogou pela seleção. Portanto, em termos de seleção, é o mais experiente. Além do mais, atravessou com garbo crises no Flamengo que fariam corar de vergonha esses furacões caribenhos que andam assustando nossos rapazes.
A questão vital me parece ser a tática. Sávio é, claramente, um craque do contragolpe. Veloz, insinuante, dribla com extrema facilidade em plena carreira, e é daqueles pontas tipo Pepe, que fuzilam, na corrida, com perfeição, veneno e força.
Contudo, o contragolpe, no caso desta nossa seleção olímpica, haverá de ser uma arma ocasional. Por várias razões: 1) se historicamente nossos adversários já se postam defensivamente quando vêem a camisa dourada, que dirá nesses Jogos, onde chegamos com panca de "bam-bam-bam" da rua? 2) os nossos inimigos, tipo Hungria, que anda levando biaba de todo lado, mesmo que chegássemos sem tanta fama, ficariam na moita, por força de sua própria fragilidade, com uma única exceção, talvez -a Nigéria; 3) a formação tática e os jogadores que compõem nosso time (meio-campo com dois atacantes, como Juninho e Rivaldo, e laterais ofensivos, como Zé Maria e Roberto Carlos) sugerem um jogo de abafa, o que, por pressuposto lógico, sugere a presença de um centroavante com massa física, além de técnica, para aproveitar os cruzamentos que virão das extremidades do campo.
Já no segundo tempo, 1 a 0 no placar, o inimigo partindo para cima, aí, sim, Sávio passaria a ser uma arma letal.
Se Zagallo pensa assim, além de sortudo, velho Lobo dos campos e tantos outros adjetivos que merece, poderá ostentar o título de estrategista.
*
Garoto ainda, já era craque na bola, diante da máquina de escrever e aos olhos das mulheres. Loiro, olhos verdes, alto, de elegância displicente, Jovem Gui exibia seu perfil de John Barrymore, no dizer de Nélson Rodrigues, na Redação do "Jornal da Tarde", no início dos 70, com o encanto das almas amenas.
Como batia uma bola redondinha, eu insistia: largue essa neurose de jornalismo, vá jogar futebol em Mônaco, case com a princesa Caroline e seja feliz para sempre, rapaz.
Jovem Gui -assim batizado na redação para diferenciar-se do Velho Gui, o Old Bill Duncan de Miranda, único torcedor do Americano de Campos, além do Caixa D'Água, que conheci- não foi para Mônaco, mas passou perto.
Sumiu da Redação. Meses depois, fiquei sabendo: andou jogando num time da segunda divisão da Suíça. Voltou, cumpriu brilhante trajetória no jornalismo brasileiro e se foi no último fim-de-semana.
Desconfio que convocado pelas fadas e nereidas para jogar o jogo da bola e dos galanteios no eterno campo dos sonhos.

Texto Anterior: Ruas com nome igual confundem turista
Próximo Texto: Sonho olímpico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.