São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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RECUO PARCIAL

O filósofo político Thomas Hobbes falava frequentemente na guerra de todos contra todos, uma tendência natural da humanidade que só poderia ser contida pela intermediação de um poder superior como um monarca, ou seja, alguém com forças maiores que os demais.
Para muitos intérpretes contemporâneos, as relações internacionais como que representavam essa espécie de guerra de todos contra todos, pela simples razão de inexistir um poder coercitivo de fato no trato entre os países.
O recuo parcial na lei Helms-Burton anunciado ontem pelo presidente Clinton, porém, sugere que as coisas não são tão simples como pretendiam os filósofos políticos clássicos.
A lei Helms-Burton, num claro atentado ao chamado "direito internacional", pretendia que os EUA pudessem punir empresas de qualquer nacionalidade que mantivessem negócios com Cuba.
Apesar de ser a única potência remanescente da Guerra Fria, os EUA, mesmo sendo o país mais poderoso do planeta, não conseguiram resistir à reação praticamente unânime de todo o mundo contra tal diploma.
É um sinal de que, apesar da ausência de um poder coercitivo entre as nações (se existe algum, seriam justamente os Estados Unidos), começa a surgir uma espécie de consenso internacional com alguma força efetiva, seja por meio dos organismos multilaterais como UE, OEA, OMC etc., seja por meio de parceiros comerciais importantes (no caso, Canadá, México, China).
Em que pese os inconvenientes sociais provocados pela globalização, ela ao menos está fazendo com que a comunidade internacional, "lato sensu", seja um pouco mais respeitada. O que, num mundo multipolar, é um grande progresso.

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