São Paulo, quarta-feira, 17 de julho de 1996
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Razões da angústia

CLÓVIS ROSSI

Lisboa - O relatório da ONU sobre o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), ontem resumido por esta Folha, oferece pilhas de temas para reflexão. Fica até difícil escolher.
Entre tantos, vou eleger o dos enormes contrastes na evolução econômica do mundo nos últimos 15 anos, período cuja marca é a crescente globalização.
Houve fenômenos verdadeiramente ciclópicos. Na ponta boa, avanços frequentemente "em taxas que excedem qualquer coisa vista desde o início da revolução industrial dois séculos atrás".
Na ponta ruim, declínios sem precedentes, "excedendo em duração e, em alguns casos, em profundidade, os que ocorreram na Grande Depressão dos anos 30 nos países industrializados".
Essa profunda revolução explica por que o ser humano vive hoje em estado de ansiedade, para usar expressão do secretário norte-americano do Trabalho, Robert Reich.
Grandes emoções, até as positivas, provocam um certo estresse.
Viradas tão violentas exigiriam, para reduzir a ansiedade, que os governantes reagissem de forma igualmente expedita e profunda. Não foi o que aconteceu nem é o que está acontecendo.
Aliás, é até pior: a globalização, mesmo quando benéfica, tem como contrapartida a redução inexorável da capacidade de os Estados nacionais (e, por extensão, seus chefes) darem respostas rápidas aos problemas.
A própria sociedade mostra-se incapaz de digerir a veloz sucessão de acontecimentos. Dir-se-ia que o cérebro humano é impotente para processar, com a velocidade adequada, o ritmo frenético de mudanças de toda ordem que estão ocorrendo.
Tudo isso ajuda a entender a angústia que Robert Reich frequentemente aponta. Mas não ajuda a encontrar respostas. Logo, só se pode prever mais ansiedade pela frente.

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